O grito preso na garganta de uma família por mais de duas décadas finalmente encontrou eco na Justiça.
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Após 23 anos de espera, a dor transformada em luta teve seu desfecho nesta 3ª feira (24), quando Roberto Nogueira de Oliveira foi julgado e condenado a 27 anos de prisão pelo assassinato brutal da esposa, Sônia de Azevedo, uma mulher deficiente visual, assassinada diante do próprio filho de apenas 8 anos.
O júri popular aconteceu na Comarca de Alexânia, com início às 8h30, marcando um capítulo de encerramento, ainda que tardio, de um dos crimes mais cruéis e marcantes do Entorno do Distrito Federal.
A pena será cumprida em regime inicialmente fechado.

O crime
Era 29 de janeiro de 2001 quando a tragédia se desenrolou na zona rural de Alexânia.
Uma discussão doméstica, aparentemente sem grande importância, terminou em um crime que chocaria a região.
Segundo os autos do processo, a fúria de Roberto teria sido despertada por um gesto simples: Sônia deixou que suas sandálias escapassem dos pés.
O motivo fútil deu lugar à violência.
De acordo com o inquérito policial, ele passou a agredi-la com chutes, até obrigá-la a se deitar no chão, junto com o filho do casal, então com apenas 8 anos de idade.
Foi nesse momento que a brutalidade atingiu seu ápice.
Roberto desferiu 12 facadas em Sônia, matando-a ali mesmo, aos olhos do filho.
A tentativa de apagar a testemunha
Mas o horror não terminou ali.
Após matar a esposa, Roberto se voltou contra o próprio filho.
Apontando para ele, lançou uma pergunta:
“Você quer morrer como sua mãe ou pular da ponte?”
Em pânico, a criança respondeu que preferia pular.
E foi exatamente o que o pai fez: atirou o menino de uma ponte, com altura estimada entre 20 e 30 metros.
Imaginava que o filho também estivesse morto.
Mas o que ele não esperava era que o garoto sobreviveria.
Hoje com 35 anos, Rafael não apenas sobreviveu fisicamente, ele também se tornou um dos pilares da denúncia que culminaria na condenação do pai.
Sua memória e coragem foram decisivas para a reconstituição do crime.
Décadas em fuga
Logo após o assassinato, Roberto desapareceu.
Viveu 23 anos como foragido, enquanto a família de Sônia lutava para manter viva a esperança de justiça.
A prisão preventiva foi decretada ainda em junho de 2001, poucos meses após o crime.
Naquela época, o feminicídio ainda não existia no Código Penal brasileiro, só viria a ser tipificado como crime em 2015.
Ainda assim, o caso foi enquadrado como homicídio qualificado, com agravantes como motivo fútil e meio cruel.
O fim da fuga
A caçada terminou em 27 de agosto de 2024, quando Roberto foi localizado e preso na cidade de Navegantes, em Santa Catarina, após operação conjunta entre as Polícias Civis de Goiás e de Santa Catarina.
Levado a julgamento quase 1 ano depois, o acusado optou pelo silêncio, utilizando-se do direito constitucional de não responder às perguntas em plenário.
Embora réu primário, a frieza dos atos e a tentativa de matar o próprio filho impactaram profundamente os jurados.
Condenação e alívio
A condenação a 27 anos de prisão, em regime inicialmente fechado, foi recebida com alívio e emoção pelos familiares de Sônia.
O sentimento era de que, mesmo tardiamente, a Justiça havia se pronunciado.
Depois de mais de duas décadas, o nome de Sônia de Azevedo foi lembrado não como estatística, mas como símbolo de resistência e memória.

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