Alertado sobre a existência de missas-espetáculo, culto ao personalismo e vulgarização da liturgia, o Vaticano investigou durante anos o sacerdote mais famoso da América Latina
Por Marco Faleiro
“Os animaizinhos subiram de dois em dois.” Se você viveu os anos 1990, com certeza conhece a animada música de autoria de uma das figuras mais populares daquela década. Trata-se do padre Marcelo Rossi, da arquidiocese de Santo Amaro, em São Paulo, fenômeno cristão em toda a América Latina, com mais de 11 milhões de CDs vendidos. Mas a imagem caridosa do padre artista guarda ainda muitos mistérios. Por que o Vaticano investigaria a vida do religioso por dez anos?
Informações dão conta que um padre brasileiro encaminhou denúncia ao Vaticano para que fossem investigadas questões como culto ao personalismo, “circo” nas missas e vulgarização da liturgia. A apuração, que durou uma década, foi conduzida pelo próprio papa Bento 16, quando ainda era cardeal. Entre 2004 e 2005, Rossi esteve próximo de ser suspenso da Igreja Católica.
Inquisição
A “Congregação para a Doutrina da Fé” (órgão da Igreja que passou a cumprir as funções da medieval inquisição) analisou muitos vídeos que mostravam as participações do padre Marcelo na televisão. Entre elas, estavam as frequentes entradas nos programas do Gugu, do Faustão e da Xuxa.
Os porta-vozes do Vaticano não quiseram se pronunciar oficialmente sobre o assunto. Mas o padre declarou: “Não faz sentido. Não devo nada”. E a investigação, apesar de ter representado um golpe à saúde de Marcelo, não resultou em punições sérias. A salvação do padre pode ter sido a morte de João Paulo II. A fatalidade fez com que o encarregado das investigações, Bento, fosse escolhido para ser o novo papa e abandonasse a Congregação.
O Folha Z concluiu que o Vaticano temia a possibilidade do padre Marcelo desencadear uma dissidência. O que mais preocupava o alto clero do Vaticano era que, em Santo Amaro, pudesse surgir uma vertente da Igreja Católica.
Problemas de saúde
Observando as fotos do padre que compõem essa matéria, é visível a debilidade que acometeu Marcelo Rossi nos últimos meses. As imagens, postadas no Facebook, causaram espanto nos seguidores. Preocupados com o estado de saúde do homem santo, alguns internautas especularam: “O motivo dessa investigação é a inveja da popularidade do padre Marcelo. E isso tudo deixou ele doente”.
A depressão já foi outra adversária do católico. Marcelo conta que um acidente em uma esteira ergométrica desencadeou problemas psicológicos. Ele precisou de uma cadeira de rodas por seis meses. A depressão foi também o gatilho que fez com que o padre ganhasse muito sobrepeso até 2012.
À imprensa, Marcelo disse que fez dietas rígidas porque se incomodou com os comentários de que estava gordo. Vaidoso, se dedicou a uma dieta que o permitia comer apenas alface, cebola e hambúrguer. A perda de peso foi impressionante: o homem de 1,95 m de altura foi dos 128 kg aos 60 kg no final de 2013. Hoje, Marcelo Rossi declara estar por volta dos 80 kg.
Mas quem acompanha o “Momento da Fé”, apresentado diariamente por Marcelo Rossi em cadeia nacional no rádio, nota a debilidade através da voz do padre. O jornalista Guilherme Coelho, ouvinte do programa, lamenta a situação e até mesmo os boatos de que ele estaria transmitindo pelo telefone, por não estar apto para sair de casa.
Padre Marcelo Rossi admitiu que nunca procurou a ajuda de psicólogo para enfrentar seus problemas, mas que terapia para padres é comum. Rossi confessou que toma remédio para calvície e está quase curado da depressão.
(BOX) O homem
Um dos nomes da Renovação Carismática Católica, movimento que prega a abertura da Igreja, Marcelo quis se tornar padre depois de assistir a uma minissérie sobre a vida do papa João Paulo II. Ainda jovem, concluiu cursos superiores de Educação Física, Filosofia e Teologia. Mas foi na comunicação e no meio artístico que mais se destacou.
A obra do padre é vasta. São muitos álbuns lançados, além dos livros mais vendidos do Brasil. Os títulos “Ágape” (10 milhões de exemplares vendidos) e “Kairós” (2 milhões) estão entre os maiores bestsellers do país, à frente até de fenômenos de venda, como “Crepúsculo” e “Código Da Vinci”.
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