A Fórmula 1 chegou ao Bahrein para a corrida de número 900 de sua história. E tão importante marca merecia que as ações em pista fossem dignas da comemoração. Mas a pista de Sakhir nunca foi conhecida por ter um traçado que proporcionasse boas disputas. Não até hoje.
A corrida começou com Nico Rosberg (Mercedes) largando da pole com seu companheiro Hamilton ao lado. Na segunda fila Valtteri Bottas (Williams) e Sergio Pérez (Force India), seguidos por Kimi Räikkönen (Ferrari) – pela primeira vez largando na frente do companheiro Alonso – Jenson Button (McLaren), Felipe Massa (Williams), Kevin Magnussen (McLaren), Fernando Alonso e, fechando o top 10, Sebastian Vettel (Red Bull).
Assim que as luzes vermelhas se apagam, Hamilton dá o bote e pula na frente de Rosberg. Felipe Massa faz uma largada espetacular e, de sétimo, pula para terceiro. Pérez conseguiu manter sua posição e Bottas caiu para quinto. Button manteve a sexta posição, Hülkenberg largou bem e conseguiu tomar a posição de Alonso, mas o espanhol logo a recuperou. Räikkönen e Vettel completavam os dez primeiros.
Mas Hamilton não teve vida fácil, pois logo depois da largada Rosberg seguiu em seu encalço, brigando para retomar a ponta. O inglês consegue se manter na liderança, mas a briga não acabaria ali. Mais atrás, Jean-Éric Vergne (Toro Roso) tem um pneu furado e precisa ir aos boxes logo de cara. Atrás das Mercedes vinham Massa, Pérez e Bottas, todos muito juntos, brigando intensamente pela terceira posição. Button vinha em seguida, com Alonso atrás, depois de superar Hülkenberg.
Antes da primeira rodada de pits stops, a Mercedes muda a estratégia de Rosberg, que passaria a poupar pneus na primeira parte da prova pra poder fazer um primeiro stint mais longo. Com isso, Hamilton consegue uma folga e abre um pouco a distância sobre o companheiro de equipe. E Massa, Bottas e Pérez seguiam em sua intensa luta pela terceira posição. Quem vinha muito bem nesse momento era Daniel Ricciardo, que largando de 13° devido à punição sofrida no GP da Malásia, vinha escalando o pelotão, numa bela corrida de recuperação.
Primeira janela de pits
Na 11ª passagem, depois de ser ultrapassado por Button e Hülkenberg, Bottas abre a primeira janela de pits, seguido por Kvyat (Toro Rosso) e Bianchi (Marussia). Enquanto isso, Massa era ultrapassado por Pérez, e na volta seguinte também foi aos boxes, seguido por Räikkönen e Hülkenberg, depois Pérez e Button. Na frente, Hamilton e Rosberg, que sobravam, adiaram ao máximo suas paradas, prova de que além de terem o melhor motor e o melhor equilíbrio dinâmico, os carros da Mercedes também sabem tratar muito bem os pneus.
E lá no meio a primeira confusão da corrida: Sutil e Bianchi se tocaram (duas vezes) e o alemão da Sauber ainda deu uma escapada da pista. O francês foi considerado culpado pelo incidente, e punido com um drive-through. No entanto Sutil não deu muita sorte, abandonando a corrida na volta 21 com problemas no carro.
Brigas
Falemos, pois, das brigas internas, que não foram poucas. Hamilton e Rosberg vinham numa disputa ferrenha pela ponta, com direito a troca de posições, toque de rodas, empurrões para fora da pista. Uma coisa que não se via entre companheiros de equipe disputando a ponta de uma corrida já há um bom tempo. Na Red Bull, Vettel enfrentava a pressão de Ricciardo, que vinha numa exibição impecável e pressionava fortemente o tetracampeão. Bottas e Massa se encontravam pela pista e Pérez e Hülkenberg também estavam na disputa. Nesse momento a ordem era: Hamilton, Rosberg, Bottas, Massa, Hülkenberg, Pérez, Button, Alonso, Räikkönen e Vettel. Massa exercia pressão sobre seu companheiro e trazia junto os dois carros da Force India. Quatro pilotos separados por poucos décimos brigando por um lugar no pódio. Pouco atrás, mas não muito, Alonso vinha no encalço de Button.
Mais uma vez Bottas abriu a nova janela de pits, o que dá a entender que os carros da Williams têm um alto consumo de pneus, já que Massa também entrou logo depois, não sem antes ser ultrapassado pelos carros da Force India, que faziam enorme pressão. Na volta, Bottas vai para cima de Ricciardo e Räikkönen e na freada para a curva 1 quase acerta em cheio o compatriota. Com isso, Ricciardo consegue tomar a posição do Iceman. Bottas se recupera prontamente, e logo ultrapassa o australiano da Red Bull. Com a rodada de pits completa, os carros da Force India começam a andar muito rápido e, junto das Williams, voltam a disputar na frente (logo depois do mundo de vantagem das Mercedes).
Confusão
E então veio a segunda confusão da corrida: Pastor Maldonado (Lotus) e Estebán Guitérrez (Sauber) vinham disputando uma posição no final do pelotão, quando na curva o venezuelano, sem a menor cerimônia, vai com tudo para cima do mexicano e o toca, o fazendo capotar. Guitérrez, apesar de ficar tonto não se fere, e Maldonado é punido com um “Stop & Go”, punição essa, a meu ver muito branda. O safety car é acionado e a maioria dos pilotos aproveita para fazer mais uma troca de pneus, entre eles os líderes Hamilton e Rosberg.
A bandeira verde veio na 46º volta. Rosberg, que vinha com pneus macios, foi para cima de Hamilton, em mais uma empolgante disputa entre os dois companheiros pela vitória. Pérez pulou na frente de Hülkenberg e assumiu o terceiro posto. Ricciardo vindo mais de trás superou Vettel, mais uma vez, e Hülkenberg, para assumir a quarta posição, enquanto Felipe Massa vinha entre atacar Vettel e segurar Bottas. Preferiu não correr o risco de perder a posição para o companheiro e piorar sua imagem (que já começa a ficar meio desgastada pela situação da Malásia) e se mantém na sétima posição, segurando o finlandês, embora tenha, ainda, tentando (de forma muito bonita) uma ultrapassagem sobre o tetracampeão.
Final
No final Hamilton conseguiu resistir à pressão de Rosberg e venceu a segunda no ano, com mais uma dobradinha da Mercedes. Pérez completou o pódio, o segundo da história da equipe indiana.
E numa corrida em que se comemorava uma marca histórica importantíssima, o que aconteceu foi o que todos queriam ver. Um espetáculo digno da belíssima história da Fórmula 1. Uma corrida movimentada, com grandes disputas em todos os trechos, em todos os pelotões, entre companheiros de equipe, inclusive pela vitória e sem nenhuma intervenção das equipes via rádio. Que continue assim.
Rafael Schelb é músico e entusiasta da Fórmula 1. A coluna Alta Velocidade é publicada no portal Folha Z sempre após os GPs da Fórmula 1
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