É difícil acreditar que, no auge da Era do Compartilhamento, pessoas ainda não se preocupem com a imagem que criam de si mesmo a partir de comentários e compartilhamentos em redes sociais e aplicativos de mensagem, que diariamente são palco de histórias que tiveram consequências devastadoras, sobretudo na vida profissional dos envolvidos. Engana-se quem pensa que essas plataformas são pessoais. Nos tempos em que vivemos, tudo se tornou público: fotos, posts, comentários, ideias e tudo mais que for dito e compartilhado.
Quem não pasmou com casos como o do copiloto da Avianca que criticou de forma preconceituosa os nordestinos em seu Facebook e da professora universitária que, na mesma rede, atacou um passageiro do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, comparando o local a uma rodoviária por conta da vestimenta do rapaz? Mais grave ainda, o caso da jovem Fran, de Goiás, que teve vídeos íntimos compartilhados milhares de vezes pelo WhatsApp.
Todas essas pessoas sofreram sanções, foram criticadas, se envolveram em processos judiciais e foram afastadas de seus cargos. A mestre em Psicologia do Trabalho e especialista em Carreira, Cyndia Bressan, explica que por mais absurdo que isso possa parecer, na Era do Compartilhamento, não há mais distinção entre vida pessoal e profissional.
“Ainda que o perfil nas redes seja social e que a pessoa tenha apenas amigos, o perfil não deixa de ser público e ela fica exposta às empresas e ao mercado de forma geral. Para qualquer tipo de declaração – ainda mais quando a pessoa representa uma entidade -, o público, em geral, associa que aquela entidade, por tê-la como representante, também pensa daquele jeito. Então, não se pode falar o que você pensa, mas tem que ser dito o que a instituição acredita e valoriza. Você acaba perdendo um pouco da privacidade, é verdade, pois se torna uma figura pública a partir daquela empresa”, destaca Bressan.
Estar conectado quase que o tempo todo tem suas vantagens, mas muitos ainda pecam por não perceber que tanta tecnologia e conectividade podem ser – sem chance de retratação – um verdadeiro “tiro no pé”. Sendo assim, cabe a cada um examinar a própria consciência, fazer avaliações e estabelecer um crivo ético. Quem participa da minha rede? Que imagem desejo passar com minhas publicações? Meus pais, marido, esposa, namorado (a), amigos e colegas de trabalho podem ver o que estou comentando e compartilhando? Preciso mesmo comentar e compartilhar esse assunto? Vale também analisar a situação sob outro ponto de vista: eu gostaria que alguém compartilhasse ou comentasse algo nesse tom ao meu respeito?
Redes sociais não são ambientes para desabafo. A psicóloga Cyndia Bressan recomenda a procura por interlocutores mais adequados, como amigos, familiares e até mesmo um terapeuta, visto que, no ambiente virtual, você é uma pessoa pública e milhares de pessoas – também públicas, diga-se de passagem – acessam seu perfil.
“Isso seria interessante para mim e para minha vida profissional?”, Bressan orienta a mais esse questionamento. Diante de uma incerteza, é bom evitar polêmicas e comentários incisivos, indiretas, fotos comprometedoras, vícios como bebida e cigarro em excessos e fotos sem roupa ou extravagantes. “Isso acaba comprometendo a imagem da pessoa”, garante a especialista em Carreira. Cyndia aconselha também a verificar se os comentários não estão sendo pejorativos de alguma forma: “em relação a alguma raça ou etnia, a algum gênero, a questões homossexuais ou até mesmo a classes sociais”.
Na Era do Compartilhamento, nunca é tarde para aprender a agir da maneira correta. Por isso, pense bem antes de comentar e compartilhar qualquer coisa, sobre qualquer assunto, pois nunca sabemos quando isso poderá ser usado contra nós mesmos. Pode ser cruel, mas todos estamos expostos e esse é um caminho sem volta.
Humberta Carvalho é jornalista, assessora de comunicação do IPOG, cursa MBA Executivo em Mídias Digitais
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