O seriado sobre vampiros e criaturas mágicas da HBO chegou ao fim. A história conduzida por Alan Ball (de “Six Feet Under”, tomem nota os desavisados) mostrou seus últimos minutos no décimo episódio da sétima temporada na noite do último domingo (24/08). E, junto com os derradeiros suspiros de “True Blood”, assistimos ao fim de uma era na televisão e talvez até no cinema. Leia até o fim para conhecer a previsão que faz essa coluna.
Interlúdio
Em todas as conversas que se poderia ter sobre o seriado nos seus sete anos de existência, a abertura não poderia ficar de fora. Os minutos iniciais ao som de “I wanna do bad things with you” e flashes de podridão, loucura, sedução e atraso ambientaram a trama com a maestria que só esse canal pago é capaz de entregar. Além do anúncio “God hates fangs”, que já entregava desde o começo os motivos mais fortes que trespassariam a história.
O tema da discriminação sempre foi, pelo menos a meu ver, a principal razão de existir do seriado. Seja quanto ao desejo sexual ou à simples diferença de aparência, a alegoria era clara e eficiente. A dificuldade de ser aceito, de se sentir pertencente, a diversidade das pessoas no mundo extrapolada na pele de lobisomens, fadas e até gente-pantera, tudo isso dava a “True Blood” o poder de incluir e aceitar as perversões e diferenças de todos.
Mas, nos momentos em que esses elementos deixaram de ser pano de fundo e foram levados à frente do palco, a série teve seus momentos mais baixos. Nunca me importei se Lafayete era um bruxo exorcista, mas apenas queria vê-lo brilhar, sofrer como tudo sofre, mas conquistar aquele pequeno mundo que era só dele e tão meu.
Os conflitos a serem resolvidos pelos personagens são aquilo que faz um bom drama. E “True Blood” teve seus grandes momentos de bom drama. As panteras, a Lilith, o Super Bill, as alcateias e a Tara criaram um miolo difícil de engolir, isso é certo. Mas a conclusão compensou as horas gastas de compromisso. E isso é o mínimo que se pode esperar de uma grande saga.
Fim
Vi Sookie chorar tantas vezes, que estou anestesiado para o sofrimento da moça. Mas a entrega de vampiro Bill à morte verdadeira foi drama de primeira. Morte que foi muito bem conduzida através das reminiscências do sóbrio vampiro.Felizmente os roteiristas tiveram o bom senso de recuperar um personagem que iniciou tão bem da amargura de uma barriga de roteiro.
Agradeço também que tenham abdicado da excessivamente desgastada Tara e tenham dado algum descanso ao indiferente Sam. Mas sofro por terem relegado a um fim tão artificial uma das melhores figuras da história. Jason, de um golpe só, perdeu a vampira russa e a outra ruiva, apenas para ser jogado nos braços de uma moça recém apresentada. Acredito que o personagem com um dos maiores corações da história da televisão merecesse um pouco mais.
Enfim, mesmo esperando até o último minuto que Sookie se deitasse no caixão ao lado de Bill e fosse transformada em vampira, fui até surpreendido com um bocado de coragem. Foi angustiante, foi dolorido, mas foi bonito. O tipo de tragédia que te leva ao chão para te trazer de volta depois.
Mas tudo eram flores até que os acordes melancólicos de “Thank You” preenchessem o espaço vazio do fim. Um agradecimento aos fãs, talvez, mas a estaca que eu precisava para encontrar a morte verdadeira. A canção do Led Zeppelin embalou muitos amores findados, com certeza, mas também carrega agora as lembranças do que foi tão bom.
A previsão que aqui consta é a de que True Blood leva consigo os últimos instantes de relevância para o gênero “vampiresco juvenil/monstruoso bonitinho”. Mesmo se encaixando num lugar de tanta pobreza, o seriado conseguiu se destacar pelas razões acima citadas e nem a pretensiosa “In the Flesh”, a risível “Vampire Diaries” ou qualquer outra vão conseguir mostrar algo melhor ou igual.
Obrigado.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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