Você sabe o que é um fanzine? A palavra é a junção de Fanatic Magazine. Bem, trata-se de uma publicação artesanal, que aborda diversos assuntos dependendo do autor e do público. Pode falar de culinária, cinema, música e quadrinhos, é claro. O diferencial destes materiais é a possibilidade de publicações feitas por um fã de determinado assunto para o outro fã.
Este gênero de produção tem agradado e crescido muito entre os fãs das histórias em quadrinhos. Porém, um dos fatores que podem justificar este crescimento é a possibilidade de se produzir um fanzine digital. Diferente da publicação impressa, a digital tem um alcance muito maior, podendo ir muito além do círculo de amizades de seu criador.
Quem garante isso, é o ilustrador e produtor do fanzine O Raio Negro, José Carlos Braga Câmara, de 49 anos. Segundo ele, a maior vantagem do zine digital é o alcance que a internet permite. “Antigamente podíamos atingir as pessoas do bairro, da cidade e até do País, mas agora, isso é feito numa velocidade impressionante, e podemos facilmente chegar a outros países”, que ainda ressalta ser a produção de zines imprescindível para o desenvolvimento de um mercado de quadrinhos forte. “É desta forma que nós artistas, fazemos as experimentações, assim como foi feito em outros países”.
O Raio Negro
Para quem não sabe, Raio Negro foi um personagem criado por Gedeone Malagola, que possui poderes que lembram os do Lanterna Verde. Porém, em O Raio Negro, de José Carlos Braga, o personagem ganhou uma reformulação significativa e ainda teve suas histórias ambientas no futuro. Sobre o porquê de fazer esta história o ilustrador afirma: “É uma homenagem a um herói e seu criador, que resolveu corajosamente mostrar sua criatividade, numa época difícil para os quadrinhos, mas que mostrou que era possível sonhar em fazer o que se ama”.
Segundo José, que nunca havia feito um fanzine na vida, mas que confessou estar apaixonado pela produção, a ideia surgiu durantes muitas madrugadas de desenho. E seu objetivo é mostrar aos leitores atuais, brasileiros, a grandeza de nossos personagens. “E também gostaria de dizer que não teria feito o fanzine sem o apoio de Lancelott Martins, que colorizou e editou o material”.
Cenário futurista
José Carlos afirma que personagens como Raio Negro, Hydroman e Homem Lua (todos de Malagola) podem facilmente cativar os leitores, mesmo dentro de seu contexto original, que é a segunda metade do século XX. Porém, ele explica que optou pelo futuro por acha-lo sempre instigante. “Além de ser uma nova abordagem”.
E o autor compartilha que os resultados do fanzine digital têm sido muito positivos. “Tivemos mais de mil acessos com a primeira edição de O Raio Negro, o que pra mim é maravilhoso”, comemora.
Mas os planos do artista vão além. De acordo com ele, em breve estas histórias serão apresentadas também com texto em inglês, para alcançar, assim, o público de outros países. “O que espero é abrir espaço, mostrar que temos super-heróis aqui, e que nossa abordagem pode ser original, embora a premissa seja muito usada nas Comics. Também espero que estes sejam os pioneiros de muitos outros que torço para que surjam por aqui”.
Heróis brazucas
Questionado sobre a qualidade dos heróis nacionais, José defende: “Nossos heróis são tão bons quanto quaisquer outros”. Porém, um problema que ele observa é que algumas vezes os roteiros e a arte tendem a serem muito simples.
“Mas isso não deve fazer com que o leitor deixe nossos heróis de lado. É preciso fazer um esforço para ver o que está por trás de uma história em quadrinhos, os artistas que fazem super-heróis hoje e no passado. São como soldados que vão tomar um castelo, serão os que morrerão primeiro, mas vão abrir os muros e portões para a invasão de outros soldados”.
Para ele, nossos personagens são tão importantes quanto Capitão América e Superman. Sem querer cometer injustiças, o desenhista e roteirista afirma que Beto Foguete, Crânio, Mulher Estupenda, Raio Negro, Velta, Hydroman, Homem Lua, Lagarto Negro, Fantasma Escarlate, Capitão 7 e Judoka estão entre os seus preferidos.
Cenário nacional
Apesar de todas as dificuldades de se produzir no Brasil, José acredita que “estamos bem”. Mesmo assim ele afirma que este cenário poderia estar melhor, se os artistas resolvessem mostrar mais seus universos e construir um verdadeiro mercado para os fãs.
“Falo isso com lançamentos digitais, para só depois, muito depois, tentar bancar a publicação no papel de suas HQs, o que hoje ainda é um investimento alto e de risco. Mas acredito que estamos avançando muito com publicações de qualidade cada vez maior, deixando de lado o amadorismo”, conclui.
Leia a primeira e a segunda edição do fanzine.
Francisco Costa é jornalista e fã de quadrinhos – [email protected]
Discussão sobre isso post