Salomão Ventura, o Caçador de Lendas, de Giorgio Galli, é um iniciativa independente e já segue para a quarta edição
A última sexta-feira, 31 de outubro, foi comemorada em vários cantos do mundo (e em alguns lugares do Brasil) como o Dia das Bruxas. Para nós, este também pode ser chamado de Dia do Saci. Para quem não sabe, o Saci (ou Saci-Pererê, ou Saci-Cererê) é uma figura do nosso folclore, retratada como um negrinho de uma perna só que usa um gorro vermelho e está sempre com um cachimbo, aprontando peças.
Porém, ele é mais que isso na visão do quadrinista fluminense Giorgio Galli Neto, 45, criador da HQ Salomão Ventura, O Caçador de Lendas. Em uma de suas histórias, Saci é um ser grotesco que faz muito além de brincadeiras.
Giorgio, que além de quadrinista é ilustrador, designer, jornalista e professor de desenho separou um tempo da sua apertada agenda para nos conceder uma entrevista sobre sua obra. Confira o bate-papo na íntegra a seguir:
Folha Z – Como começou a fazer quadrinhos?
Giorgio Galli Neto – Desde criança faço gibis… Comecei fazendo meus quadrinhos na cola dos heróis da Marvel e DC, com nomes em inglês tipo Metal Man, Drax, etc… Isso com 9, 10 anos. Fazia em papel A4 dobrado e coloria, escrevia, e saia mostrando pros amigos. Na escola criei meu primeiro fanzine, rodado no mimiógrafo, e os personagens eram os colegas de classe.
O interesse pela forma não passou com o tempo e comecei a trabalhar profissionalmente com quadrinhos institucionais em 2004. Meu primeiro trabalho autoral publicado com qualidade, no entanto, só veio mesmo com Salomão Ventura, o Caçador de Lendas, em 2010.
Folha Z – O que acha do cenário nacional? Acredita que o mercado tem se fortalecido?
Giorgio Galli Neto – Não acho que ainda exista um “mercado” de quadrinhos nacional, na medida que a maior parte dos autores não vive exclusivamente de suas criações. Temos ótimos autores, mas a competição com os quadrinhos estrangeiros (leia-se mangás e comics) é desleal, tanto em termos de tiragem quanto marketing e distribuição.
Aos pouquinhos vão surgindo outros instrumentos, como o financiamento colaborativo, que ajuda os independentes a publicar seu material… Porém, ainda é uma gota no oceano. Há também a publicação digital, mas ainda há quem prefira o bom e velho gibi de papel para guardar e colecionar.
Folha Z – Sobre a HQ Salomão Ventura, como surgiu a ideia de fazê-la?
Giorgio Galli Neto – Sempre achei que super-heróis não funcionam bem em histórias passadas no Brasil. Isso é uma opinião minha, respeito as opiniões em contrário e sou amigo de um monte de caras que curtem fazer esse tipo de HQ. Mas pra mim as histórias no Brasil tem que ter uma outra pegada… Além disso, sou fã da geração de 1970/1980 de artistas nacionais, gente como Mozart Couto, Shima, Colin… O pessoal que produzia terror com altíssima qualidade. Esse cadeirão de referências (e algumas outras, como o material da Vertigo) foi cozinhando lentamente até ganhar forma no Salomão Ventura. Eu sempre achei o material de nosso folclore muito abrandado e que precisava de uma releitura, uma volta às raízes, e a pesquisa para a criação das HQs dele, lendo os livros de Câmara Cascudo, comprovou minha tese.
Folha Z – Fale um pouco sobre as edições de Salomão Ventura?
Giorgio Galli Neto – Salomão Ventura conta as misteriosas aventuras do personagem-título às voltas com as lendas do folclore. A diferença é a pegada das histórias, com muito terror e violência (não são indicadas para menores). E elas se passam na atualidade, em diversos cantos do Brasil. Na primeira edição ele encontra o Saci, na segunda o Curupira, e na terceira o Lobisomem. A quarta edição está sendo preparada nesse momento e ele vai encontrar uma versão bem sensual e mortífera da Cuca.
Folha Z – Como tem sido a repercussão do público?
Giorgio Galli Neto – Geralmente muito positiva! A turma fica surpresa de ver, por exemplo, um Saci sem gorrinho vermelho, com energia saindo de seu crânio rachado, e que atua como uma espécie de vigilante protegendo crianças violentadas… custe o que custar.
Folha Z – Você mora na região dos lagos, em Araruama, no estado Rio de Janeiro. Eu sou um mineiro que vive em Goiânia e conheço seu material. A HQ tem chegado a todo Brasil? A que você atribui isso?
Giorgio Galli Neto – A HQ chega em todo o Brasil em partes, pois a distribuição é o grande calcanhar de Aquiles do autor independente. Dessa forma, só através das redes sociais que consigo atingir o leitor de outros estados, que podem comprar as revistas direto na loja virtual da Fan Page, no Facebook, enquanto o site do Salomão ainda não está pronto.
Folha Z – Seu material é impresso, mas o que acha das web comics?
Giorgio Galli Neto – Eu acho fantástico, tanto que no site do personagem vamos produzir uma HQ online exclusiva, com atualizações toda semana.
Folha Z – E sobre o Catarse, o que pode dizer sobre essa ferramenta?
Giorgio Galli Neto – Como falei, é uma opção que vem despontando como uma grande ajuda ao autor independente. Mas apenas é uma ajuda, não creio que seja a solução dos problemas. Somente com o suporte de logística de uma grande editora conseguiremos chegar de fato ao Brasil inteiro, com qualidade e preço justo.
Folha Z – Quais seus próximos projetos?
Giorgio Galli Neto – No momento estou produzindo a quarta edição de Salomão Ventura, que será um especial de 80 páginas (logo vai demorar um pouquinho pra chegar a gráfica), além de estar finalizando o site dele com as histórias inéditas e a cores. Além disso, montei um curso de desenho de quadrinhos aqui na minha cidade, e apesar de ser muito bacana, o tempo pra me dedicar a produção ficou ainda mais escasso. Mas essa é a vida do autor independente!
Folha Z – Gostaria de acrescentar algo?
Giorgio Galli Neto – Agradeço a oportunidade de falar de meu trabalho e convido a todos que quiserem curtir a Fan Page do personagem, basta acessar facebook.com/SalomãoVentura. O site, que em breve fica pronto, é salomaoventura.com.br. Grande abraço!
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Francisco Costa é jornalista e fã de quadrinhos – [email protected]
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