Normalmente quando realizamos esta pergunta às pessoas, elas costumam dizer que preferem qualidade a quantidade, é um desejo até um tanto óbvio, mas o que podemos aprender nesta relação quando falamos de políticas públicas? Da qualidade dos serviços públicos que normalmente são péssimos?
Você já imaginou alguma vez, se 100% de algum recurso público fosse investido somente na qualidade dele? Que maravilha poderíamos esperar da educação, da saúde, da segurança, transporte entre tantos outros segmentos necessários a boa convivência em sociedade. Mas porque isso não é possível? Qual a dificuldade para conseguir serviços públicos de qualidade? Culpa somente dos nossos governantes?
A meta primária da administração pública é atender de forma quantitativa
A matemática é simples, se uma população cresce, e basta estar crescendo 2% ao ano para que ela dobre de tamanho em apenas 70 anos, a meta primária da administração pública é atender de forma quantitativa aquela população, que naturalmente irá necessitar de agua, luz, pavimentação, novas escolas, hospitais, postos de saúde, entre tantas outras coisas, nestas novas áreas ocupadas, então o serviço público nunca consegue alcançar as metas de qualidade se primeiro ele precisa se expandir.
Crescer sai mais caro do que manter e aprimorar a qualidade de um serviço, e é óbvio que desse cenário as áreas mais antigas das cidades normalmente acabam entrando em colapso, seja no trânsito, no sistema de abastecimento, na saúde, no custo de vida, no valor dos imóveis e alugueis entre outros, economicamente a cidade até cresce, mas a qualidade de vida de seus moradores despenca, as vezes é preciso refazer todo um sistema, não há como projetar um sistema físico que cresça exponencialmente, para ficar fácil entender: Não se constrói por exemplo uma avenida com 15 pistas em uma cidade pequena por imaginar que no futuro a cidade irá crescer e necessitar disso, a palavra “TRANSITO” e “SÃO PAULO” te lembra alguma coisa?
A cada vez que a população cresce, e com ela sua respectiva demanda, temos que nos preocupar em observar essa lógica simples porem ignorada, que além de tais problemas visíveis e que sentimos diariamente, por exemplo, ao ficarmos presos no trânsito ou nas horas esperadas por atendimento médico, nenhum sistema consegue se manter eternamente em expansão, mas o governo fala na quebra da previdência se não houver mais jovens do que velhos, nos remetendo a uma boa e velha pirâmide financeira, que quando quebra, derruba todo mundo. Temos também as questões paralelas como a dos recursos naturais que impedem que isso aconteça, há um limite real para captação de agua, produção de esgoto, uso de outras matérias primas diversas, que ao atingirem seus limites colocam todo o conjunto social em um grande problema.
É comum as pessoas invejarem vários países da Europa por sua qualidade de vida, ou mesmo algumas cidades da região sul do nosso país, basta correlacionar estes dados com seu crescimento demográfico para entender o porquê, um crescimento mínimo permite que possamos investir em QUALIDADE e não em QUANTIDADE, naturalmente as pesquisas que observam isso, confirmam tal fato, e assim temos uma educação de qualidade, saúde, pleno emprego, baixa desigualdade social, redução dos índices de criminalidade entre tantos outros benefícios.
Quanto maior a quantidade de filhos, menos os pais podem investir na formação social
O mesmo acontece dentro das famílias, quanto maior a quantidade de filhos, menos os pais podem investir na formação social e cultural de cada um deles, não há maneira lógica de se focar em qualidade se você precisa dividir vários os recursos, sejam eles quais forem, e assim criamos muitas vezes um exército de pessoas, mas sem qualidade alguma, o lamentável é que se os pais não se preocuparam com isso, tentar remediar na fase adulta e independente, é com certeza complicado.
É por isso que devemos nos preocupar em saber que não há políticas públicas focadas neste aspecto, e nenhum político costuma abordar tal tema em uma sociedade tão conservadora quanto a nossa, falar de políticas de controle de natalidade é visto para muitos como uma ofensa, o governo por intermédio do seu ministério da saúde inclusive dificulta as cirurgias de laqueadura e vasectomia, o que seria um investimento social gigantesco, o aborto é discutido de forma extremamente rasa, filhos são vistos como uma obrigação para os casais.
Então lhe pergunto, precisaremos deixar que o telhado caia sobre nossas cabeças para dar atenção as rachaduras da parede? Devemos escolher, ou limitamos esse crescimento desordenado e burro, que trás tantos problemas sociais e nos obriga a investir na expansão dos serviços a uma qualidade extremamente ruim, sendo assim um eterno objeto de reclamação, ou colocamos em nossas cabeças que é impossível querer qualidade e quantidade ao mesmo tempo, e para tal, medidas sociais de controle de natalidade e crescimento demográfico são necessárias.
Dirceu Junior, 27 anos, é formado em Direito e Administração e gosta de pensar em soluções políticas
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