Sabe quando você sonha com alguém, mas com coisas que nunca aconteceram, porém, quando acorda sente uma melancolia, uma saudade que não sabe bem explicar? Então, essa é a premissa de Pigmaleão, uma história em quadrinhos do selo independente Circuito Ambrosia, ilustrada por Diego Sanchez.
Mas espera, estou me adiantando um pouco. Algumas semanas atrás falei sobre vários projetos do Catarse, entre eles o Circuito Ambrosia 2015. Na palavra dos próprios idealizadores, “o principal objetivo com este projeto é fomentar o mercado de quadrinhos promovendo uma articulação entre autores, leitores, canais de conteúdo e revendedores”.
Surpresa
Em 2014, o Circuito Ambrosia lançou as HQs Pigmaleão e Magra de Ruim, de Sirlanney. Imagine minha surpresa ao olhar minha caixa do correio, checada bem esporadicamente, e me deparar com esses dois materiais. Foi muito legal.
Ambas as revistas tem um formato e um material bem diferentes. São lindas. Custo a acreditar que seja um selo independente. Não resisti, logo que abri o envelope peguei minha edição de Pigmaleão e mandei brasa na leitura.
Pigmaleão
O material é curto, fácil de ler. Mas ao mesmo tempo, dá uma vontade de ler outra vez – parece que perdi alguma coisa. Sendo assim, li mais uma vez por garantia e foi bem agradável.
A história segue linearmente, até que começa a tomar formas de um sonho. A arte é linda, sensível, às vezes pesada. Queria dizer que tem uma pegada simples, mas só parece. É um álbum para guardar com carinho e dar mais uma lida, quando as memórias já tiverem passado.
Magra de Ruim
A segunda HQ que recebi do Circuito Ambrosia foi a Magra de Ruim, de Sirlanney. Confesso que até a publicação dessa coluna ainda não havia lido o material, porém, uma breve folheada foi suficiente para perceber o traço único e belo da autora.
Temporada 2015
Com essas duas amostras que foram lançadas em 2014 que tive acesso, confesso que fiquei ansioso pela temporada 2015. Desta vez serão muito mais artistas, muito mais HQs (12 títulos, para ser mais claro). O projeto segue firme no Catarse e tem mais 14 dias para conseguir levantar a verba para o financiamento. Não conhece ainda? Clica AQUI e saiba mais.
O projeto é ambicioso, a equipe é audaciosa. O mercado de quadrinhos brasileiros, que graças aos céus, não para de crescer, precisa de mais obras independentes de qualidade espalhadas por aí.
Entrevista com Diego Sanchez, autor de Pigmaleão:
Folha Z – Como surgiu a ideia de criar o selo independente Circuito Ambrosia?
Diego Sanchez – Eu fui convidado pelo Salvador Camino que já tinha o site Ambrosia e estava querendo publicar um livro que eu já tinha pronto.
A ideia acho que é a convergência de dois projetos, o meu, a página Quadrinhos Insones no Facebook, e o do Salvador, o site Ambrosia. Eu tive alguns projetos de edição um pouco menos maduros antes e o Circuito Ambrosia foi a evolução dessa vontade de integrar a cena independente de quadrinhos através de publicações de artistas mais jovens ou menos integrados na cena, mas que tivessem um trabalho já maduro.
Folha Z – Em 2014 vocês lançaram duas obras, Pigmaleão (sua) e Magra de Ruim, da Sirlanney. Este ano os planos são para 12 projetos. O que pode dizer desta evolução?
Diego Sanchez – Os 12 projetos são uma espécie de meta final, mas havendo problemas com o projeto de crowdfunding de maneira a não alcançar o financiamento, o projeto terá uma quantidade reduzida de títulos financiados de outras maneiras.
Folha Z – Quem faz parte do selo?
Diego Sanchez – Por enquanto eu e Salvador na parte criativa. As partes administrativas são distribuídas entre o pessoal da Ambrosia. PAinda é uma iniciativa pequena, mas conforme o projeto e desenrolar talvez mude isso.
Folha Z – Você também está no meio desses projetos? Fale um pouco da sua obra.
Diego Sanchez – Sim, eu estou escrevendo uma história chamada Oroboro, que fala sobre ciclos, sobre família, sobre relacionamentos e tal…
São três histórias: uma sobre um homem que tem o corpo reconstruído artificialmente após um acidente; uma sobre o final de um casamento; e uma sobre uma mãe e seus dois filhos que viajam para comparecer a um enterro.
Folha Z – O mercado de quadrinhos brasileiro vem crescendo, mas também, o número de artistas que tentam se inserir. Há espaço para todos?
Diego Sanchez – Acho que o crescimento do mercado é algo mais devagar do que se especula. Acho que o mercado ainda está se formando, ou reformando, e existe sim um crescimento, mas a demanda ainda é pequena. É importante que existam novos autores criando e produzindo coisas diferentes, agregando públicos diferentes. Porém, em termos profissionais isso não garante um retorno para esses autores. Acho difícil falar disso, porque eu não entendo tão bem assim (risos), mas pelo que eu observo existe algo surgindo, mas ainda muito frágil.
Existem outros jovens como eu interessados em se tornar quadrinistas, mas ainda é algo inviável e talvez continue sendo. Com o fim iminente das grandes publicações impressas, a possibilidade de se sustentar com quadrinhos é ainda mais distante. Estamos num momento extremamente delicado para esse mercado, e por ser extremamente pessimista acredito que talvez seja uma onda passageira. O tipo de entretenimento que a massa busca, hoje em dia, é cada vez mais o gratuito. Todo mundo baixa filmes na internet, todo mundo tem acesso a infinitos quadrinhos online por scans, piratas ou mesmo por produtores que acreditam no conteúdo livre e isso independente de ser certo ou errado parece restringir o público a um nicho fetichista, que tem a necessidade de ter o material impresso bonitinho na sua estante.
Folha Z – Conseguindo a aprovação no Catarse, já há planos para outras publicações? Quais os próximos passos da Circuito Ambrosia?
Diego Sanchez – Bem, para o ano de 2015 seriam apenas essas com talvez uma chance de novos zines. Os planos são de se inserir cada vez mais nas feiras e fomentar esse tipo de interação real com os consumidores de quadrinhos.
Folha Z – Há um plano B, caso não seja possível viabilizar o projeto no Catarse?
Diego Sanchez – Sim, sim , temos planos de publicar alguns dos livros com certeza.
Francisco Costa é jornalista e fã de quadrinhos – [email protected]
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