Uma das mais aclamadas produções dos anos 2010, “Mad Men” foi encerrada no último domingo (19/5). Depois de sete temporadas, vimos o último capítulo na vida de vários personagens queridos. Mas o “finale” foi bom mesmo? Ou será que a única conclusão é que foi daqueles que se ama ou se odeia? Don Draper virou mesmo hippie, continuou o mesmo ou a previsão feita nesta coluna há algumas semanas foi realmente levada às últimas consequências, mas de maneira sutil?
Personagens
Peggy recusou uma proposta de sociedade que a tiraria da condição de funcionária e decidiu investir na sua capacidade criativa. Descobriu, inclusive, aquilo que os fãs mais atentos (ou “shippers”) já sabiam há anos: Stan era seu par perfeito, sempre ao alcance da mão ou do telefone. E, pulando para os últimos instantes de tela, é legal imaginar que foi a querida Peggy a responsável pela clássica propaganda da Coca. Ou não?
Joan se tornou a mulher que sempre quis ser, independente e livre das limitações que sua beleza impunha na relação com qualquer homem. Roger, casado com a francesa maluca, garante seu filho com Joan em testamento. Pete recupera seu casamento e inicia uma nova carreira; ao fim, entra num avião, na melhor maneira “Mad Men” de se auto-referenciar: lembra que o pai Campbell morreu num acidente de avião?
Mas, como nem tudo na vida são realizações, o câncer de Betty foi um dos momentos mais delicados desse final. A vontade dela de que o ex-marido não voltasse para casa antes que morresse foi difícil, mas compreensível. Além do mais, a conversa por telefone entre os dois foi de arrepiar e o amadurecimento de Sally foi um dos desenvolvimentos de personagem mais bem feitos da ficção.
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Final
Don sentado à beira de um abismo e meditando ao lado dos companheiros do retiro espiritual foi um final estranho, mais até do que se poderia esperar. Uma leitura seria ele finalmente se cansou de tudo que tinha vivido até ali, revelou-se para Peggy, abraçou o companheiro de sofrimento e começou uma nova vida ao melhor estilo dos anos 70.
Uma segunda visão seria dizer que ele fez tudo como Peggy já esperava: saiu da crise, voltou para a McCann e escreveu a clássica propaganda do refrigerante. Nesse caso, o sorriso no momento da meditação não passa do surgimento de uma ideia brilhante para o comercial, que seria baseado no sentimento de pertencimento e comunidade, estrelado por pessoas bem diferentes e amistosas e gravado num penhasco cheio de grama verde (como o do retiro).
Uma terceira, sombria e um tanto forçada interpretação seria a de que Don se suicida no final. Desesperado, sozinho, sem perspectiva alguma de reaver a família e desiludido com o trabalho, ele se joga do penhasco e o que há no fim é apenas a concretização do seu desejo de paz. Matthew Weiner, principal nome criativo da série, já confessou que pretendia fazer um final à “Sopranos” e os afortunados que viram a série mafiosa sabem do que falo.
Você pode escolher qualquer uma das teorias ou mesmo compartilhar uma quarta. Mas o que mais parece provável é que Don viva o seu eterno retorno de fugir de todas as responsabilidades só para em seguida retornar à vida de publicitário (e de excessos) que tanto alimenta seu ego. Afinal, ele mudou algum milésimo do que era no início do seriado? Sim ou não: compre uma coca, porque o final de “Mad Men” foi um evento que se repete apenas uma vez a cada cinco anos.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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