No Brasil é assim. Estoura o escândalo do momento e as partes atingidas logo defendem investigação exemplar e punição aos envolvidos. O caso Fifa-CBF, apelidado de “cartolão”, incluiu um novo item ao roteiro: a retirada do nome do ex-presidente José Maria Marin da fachada da sede no Rio de Janeiro. Como se o simples gesto de excluir algumas letras de um prédio fosse suficiente para diminuir a vergonha por décadas e mais décadas de bandalheira no futebol brasileiro.
Quem tem a memória curta ou não sente tanto interesse pelos bastidores do futebol talvez não vá lembrar, mas existe uma lista quase interminável de episódios que deixaram suspeitas sobre legalidade e transparência. E a rainha-mãe Fifa sempre se notabilizou pelos exemplos nada republicanos para suas afiliadas: acordos envolvendo copas de seleções (Argentina, em 1978, é um exemplo clássico), favorecimento em ligas de clubes masculinos e femininos, orientação da arbitragem, renovação de contratos publicitários e direcionamento na comercialização de ingressos.
A Confederação Brasileira de Futebol, também conhecida ao longo dos anos pela expressão “Casa Bandida do Futebol” do jornalista e blogueiro Juca Kfouri, revelou-se uma aluna exemplar e escreveu o seu próprio histórico de casos nebulosos. Entre eles, a assinatura do contrato de exclusividade da Pepsi com a seleção brasileira pouco antes do início da Copa de 90, a negociação de outros vínculos comerciais, com destaque para a Nike, a inclusão de jogadores desconhecidos nas listas de convocações e a definição de sedes e locais de treinamento em amistosos e competições oficiais. É fato: nenhuma dessas escolhas obedeceu apenas critérios técnicos.
Após as prisões de executivos, entre eles José Maria Marin, a tendência é de que outros acontecimentos venham à tona, porém a grande parte da bandalheira permanecerá enterrada nos subterrâneos do futebol. Nem Joseph Blatter nem Ricardo Teixeira seriam capazes de lembrar todos os episódios nebulosos em que já estiveram envolvidos. É como se diz nas cabines da crônica esportiva e nas arquibancadas dos estádios: muito se sabe sobre os escândalos, pouco é possível provar sobre eles. Em muitos casos será a palavra de um dirigente contra o outro, mas ambos com batom na cueca.
Mesmo não sendo possível fazer uma ampla varredura no passado, o importante é que a investigação deflagrada nos Estados Unidos e na Suíça pelo menos sirva como freio na roubalheira desenfreada que assola o futebol mundial. E o Brasil, pentacampeão mundial, é o país com maior apetite na modalidade “levantamento de dinheiro a curta, média e longa distâncias”.
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