Lula em Brasília
A visita do ex-presidente Lula a Brasília, para uma reunião com as bancadas do PT na Câmara e no Senado teve duas avaliações entre os parlamentares e assessores da Presidência da República. A positiva é que a presença de Lula pode ajudar a elevar o moral dos aliados no Congresso e fazer com que eles sejam mais firmes na defesa dos interesses do governo, nas votações. A segunda avaliação é negativa e, segundo um senador e um deputado que conversavam com este colunista, beira ao constrangimento. É que Lula foi a Brasília durante a ausência da presidente Dilma Rousseff, que estava nos Estados Unidos, e isso pode sinalizar para um enfraquecimento da imagem de Dilma junto aos parlamentares e à opinião pública. Principalmente depois das críticas que ela sofreu do antecessor e padrinho político.
Na frigideira
Por falar em constrangimento, é mais do que delicada ou desconfortável a situação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Uma ala muito forte do PT decidiu que quer a cabeça dele a qualquer custo. Na avaliação do grupo, Cardozo não vem conduzindo com muita habilidade as atuações da Polícia Federal nem da Procuradoria Geral da República. A ele é atribuída a responsabilidade por permitir que as investigações de todo tipo de escândalo respingue no governo. Na avaliação do grupo, Cardozo tem de controlar mais as duas instituições.
Trocando em miúdos
Para controlar as duas instituições, esse grupo do PT entende que Cardozo tem de frear as investigações, permitir que só se apure o que for de interesse do governo. O próprio ex-presidente Lula andou com esse discurso. Mas os 26 anos de jornalismo desse colunista permitem uma dúvida, com base na boa história de lutas e contribuições do PT: não foi sempre o PT o maior defensor para que tudo seja investigado, para expurgar tudo que é perverso e deixar as relações e os governos éticos e transparentes? O ministro Cardozo sabe que está na frigideira, e quer deixar bem clara a postura dele. Se cair, é porque a liberdade que deu incomodou.
Manobras de Cunha
Articulado como nenhum outro, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já tinha tudo planejado para garantir que a redução da maioridade penal voltasse à pauta com uma nova redação, mas com teor quase idêntico. E nem o governo contava com isso. Mas essa foi apenas mais uma manobra de um presidente que fareja de longe todas as possibilidades e sabe, como ninguém, explorar as brechas. Foi assim com a proposta que tratava do financiamento de campanha. Depois da rejeição do financiamento privado, ele encontrou um caminho para a proposta voltar a ser apreciada e conseguiu o que queria. Olhando assim, parece simples: um parlamentar mais esperto que a maioria dos parlamentares. Mas uma avaliação mais criteriosa faz a cena ficar ainda mais assustadora. Eduardo Cunha é apenas um político tipicamente brasileiro que cresce à medida que o governo federal se deteriora e a bancada governista fica em frangalhos. Assim como a natureza, o poder na política também se desenvolve no vácuo. Se há espaço, há conquista de território.
Manobras de Renan
Menos afoito, mas não menos esperto e articulado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) anunciou mais uma estratégia para ficar bem com o Palácio do Planalto, sem afrontar Eduardo Cunha e ainda ganhar pontos com a bancada da bala e os colegas de legenda: vai jogar para uma comissão especial para discutir a proposta de redução da maioridade penal. A rigor, ele vai apenas cumprir o regimento, uma vez que alteração da Constituição tem ritual próprio. Mas como Cunha atropela tudo, Renan se aproveita da situação para passar uma imagem de mais responsabilidade, no Senado. Assim como Cunha, o presidente do Senado mantém firme a estratégia de anunciar medidas e estratégias políticas de interesse público para ajudar a desviar o foco das investigações da Lava-Jato. Os nomes dos dois estão na lista, né…
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