Esqueletos do armário 1
Depois de atirar para todos os lados e anunciar rompimento com o governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mandou mais recados, que o Palácio interpretou como novas ameaças. O primeiro é que agora vai tirar mais esqueletos do armário do que já vinha fazendo. Por esqueletos do armário, entenda-se “projetos parados que vão contra os interesses do governo”. Antes disso, porém, vai começar pela votação do novo pacto federativo, que redistribui as obrigações e as verbas dos impostos entre União, estados e municípios. Trata-se de uma discussão antiga, e que pode ser apreciada a toque de caixa, como aconteceu com a redução da maioridade penal.
Esqueletos do armário 2
Por falar em redução da maioridade penal, este deve ser o primeiro assunto a ser colocado em pauta pelo presidente Eduardo Cunha. Ele não se afastou de Brasília durante o recesso e diz que está usando o tempo para receber parlamentares, fazer articulações e terminar a pauta de propostas que irão a plenário. O deputado disse que além dos dois temas, vai mandar para votação a conclusão da reforma política e centrar também em projetos de parlamentares, que acabam ficando de fora, por causa da extensa pauta de interesse do governo. E é justamente esta pauta com projetos de parlamentares que pode fortalecer a imagem do deputado entre os colegas.
Problema é a pergunta
Para quem ainda não entendeu o apelo feito pelo presidente Eduardo Cunha ao ministro Ricardo Lewandowski, vai uma explicação. O presidente da Câmara tenta uma brecha para anular o processo de investigação contra ele porque o fato que o incriminaria – o suposto recebimento de propina – se tornou conhecido por meio de uma pergunta feita pelo juiz Sérgio Moro, ao lobista Júlio Camargo. Cunha tenta se beneficiar de uma brecha jurídica, porque ele não é réu no processo que tramita em Curitiba e por ter foro privilegiado, ações contra ele só podem tramitar no Supremo Tribunal Federal. Ou seja: Moro não poderia ter feito a pergunta. Entendeu?
Problema é o procurador
O caminho é outro, mas o raciocínio é o mesmo que vem sendo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além das visitas diárias que fazem ao Ministério Público Federal, em busca de brechas e detalhes no procedimento instaurado contra o ex-presidente, os advogados de Lula estariam encarregados de fazer uma devassa na vida e na história dos procuradores que cuidam do caso. Portanto, desqualificar denunciantes, investigadores ou quem quer que seja, é uma estratégia tão antiga quanto a própria Justiça brasileira.
E o Mercadante?
E não é que foi o ministro Aloízio Mercadante quem acabou perdendo espaço e prestígio entre os próprios petistas do Planalto? Apontado internamente e à boca miúda como principal pedra no sapato do vice-presidente Michel Temer como articulador político, o ministro-chefe da Casa Civil acabou sendo fritado dentro do governo. Uma fonte do Planalto garantiu que até a presidente Dilma Rousseff anda um tanto descontente com a atuação do ministro. A sugestão de acareação feita por Eduardo Cunha também teria colocado Mercadante na berlinda.
Fundamentalismo político
Enquanto parte da sociedade brasileira se divide no fundamentalismo daqueles que defendem o governo e o PT e aqueles que defendem o PSDB e criticam o PT, uma situação assustadora vem sendo desenhada no Congresso Nacional, onde verdadeiramente os problemas se originam ou são resolvidos. A mais recente é essa possibilidade de o Senado vetar o nome de Rodrigo Janot para permanecer à frente da Procuradoria Geral da República. Sem entrar nos méritos de competência ou não, o que acontece é que o procurador pode ser tirado do cargo justamente porque vários senadores são investigados na Operação Lava-Jato. Ou seja: correm o risco de barrar um nome como vingança ou por medo de serem denunciados. Mas a sociedade ainda insiste apenas na rixa PT X PSDB. Claro, todos têm direito a nutrir simpatias ou antipatias. Mas é preciso ir além disso.
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