Novela da vida real
“A Regra do Jogo” é o nome da nova novela das nove que estreia hoje na Rede Globo. As primeiras informações sobre o enredo sinalizam grande possibilidade de sucesso, a exemplo de “Avenida Brasil”, por três motivos básicos: elenco de primeiríssima mão, qualidade do autor João Emanuel Carneiro e a dubiedade entre personagens do bem e do mal. Este último item é o retrato do mundo moderno, linha tênue entre um jogo sem regras ou mesmo um jogo com regras que se moldam às circunstâncias.
Em tempo de redes sociais, de forte exposição de pontos fortes e fracos, o contraditório anda cada vez mais exacerbado. João Emanuel vai brincar novamente com o telespectador apresentando mocinhos com características negativas e vilões com traços de bondade. O protagonista da novela, aliás, será um bandido que se passa por bom moço, com direito a Organização Não-Governamental (ONG) de fachada. Qualquer semelhança com fatos protagonizados na vida real não é mera coincidência.
Honestos e sacanas
Idolatrado pelo retumbante sucesso de “Avenida Brasil” há três anos, novela que já foi comercializada com 134 países, João Emanuel Carneiro reconhece que o “público é mais inteligente do que a gente imagina”. Resumindo: o autor não subestima a inteligência do telespectador, não cria personagens totalmente puros e honestos ou completamente sacanas e desprovidos de caráter.
Como fazê-lo se o Brasil ainda é o país do jeitinho, da corrupção desenfreada, das operações da Polícia Federal, do Collor e do Maluf? Em tempo: as duas citações específicas foram simplesmente pelo aval das urnas e o tempo de vida pública, recheados de escândalos e polêmicas.
Gente da gente
Seja no papel de telespectador ou de eleitor, o cidadão brasileiro tem uma tendência a não mais acreditar em alguém com ficha corrida ilibada, a pessoa pública acima do bem e do mal. Por isso existe tanta condescendência com atitudes não muito republicanas, mas que no frigir dos ovos são debitados no célebre conceito: “ninguém é perfeito”.
Por incrível que pareça, o grande desafio dos marqueteiros hoje em dia é o de humanizar seus candidatos: abolir a gravata, o terno impecável, o português correto, o cabelo bem aparado e o currículo com dezenas de especializações. Sem generalizar, é claro, há uma tendência pela busca de alguém mais próximo da vulnerabilidade do cidadão comum, que não faça parte do perfil familiar irretocável de comercial de margarina.
Os novos personagens de “A Regra do Jogo” prometem incendiar a essência do politicamente correto. Assim como na vida real, haverá muita torcida para o suposto vilão contra o provável mocinho. Com resultado imprevisível, a exemplo das disputas eleitorais.
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