Ícone da bobagem sem compromisso, do pop escrachado, o grupo Mamonas Assassinas merece todas as homenagens. Lá se vão 20 anos desde o trágico acidente de avião que matou Dinho, Júlio, Bento, Sérgio e Samuel. Fenômeno musical incontestável em apenas oito meses de carreira. Quem organizou festas para os filhos pequenos sabe bem do que estou falando.
Com a mistura de rock, brega e pagode, praticamente todas as faixas do disco “Mamonas Assassinas” se tornaram hits: “Pelados em Santos”, “Robocop Gay”, “Sabão Crá-Crá”, “Sábado de Sol”, “Vira-Vira”, “Chopis Centis”, entre outras. Até pensei em escrever algumas linhas sobre os desdobramentos da irreverência dos músicos, mas mudei de ideia ao ler o texto de Pondé na “Folha de S. Paulo”. Imperdível. Leia o artigo reproduzido abaixo.
OPINIÃO: “SE VIVESSEM HOJE, ARTISTAS SOFRERIAM COM ‘CENSURA DO BEM’”
Por Luiz Felipe Pondé
Se os Mamonas Assassinas aparecessem hoje, provavelmente não teriam carreira. Algum membro do Ministério Público careta e autoritário teria proibido muitas de suas letras em nome do bem e do “respeito” a algum grupo de ressentidos.
Aliás, bem no espírito iconoclasta dos Mamonas, eu diria que ficamos tão atentos à “censura do mal”, que esquecemos que a censura sempre se vê como sendo do bem. O mal político sabemos identificar mas hoje é o bem político que se traveste de cordeiro pra corroer a liberdade de expressão. Todo o mundo com medinho. Muita gente que atua no mundo público da cultura e do pensamento hoje é medrosinho. Pra garantir a janta e a foto, só diz o que todo mundo bacana quer ouvir. E gente bacana é sempre gente boba.
As letras dos Mamonas são, hoje, um documento histórico. “Minha pistola é de plástico (quero chupar-pa).Tem gay que é Mohamed tentando camuflar” (Robocop Gay). Já aqui alguém teria gritado em nome de duas “minorias oprimidas”, gays e muçulmanos. Suas letras são um documento histórico de como o Brasil encaretou. Mais vinte anos e a mediocridade será absolutamente correta. Nas escolas ninguém mais respirará, nas universidades já não se respira, na mídia teremos apenas “causas” a defender e nenhum conteúdo a se produzir.
O mundo artístico vai, aos poucos, virando um espaço sem atmosfera, onde não se tem ar pra respirar porque (quase) todo o mundo está preocupado com política e militância. Nelson Rodrigues anteviu isso quando dizia que todo artista ruim tem uma causa, mas nenhuma obra de fato. Se não bastasse ser apenas um horror por si só, isso tudo é também brega. Artista que quer ser “do bem” é, na verdade, um mau artista. Assim como poesia sincera é sempre poesia ruim, como pensava Oscar Wilde, que se vivesse hoje, seguramente, vomitaria em cima dos politicamente corretos.
E que tal esse trecho da música “Lá vem o alemão”:
“Toda vez que eu lembro de você/Me dá vontade de bater, te espancar/Oh meu amor/Só porque ele é lindo, loiro e forte/Tem dinheiro e um Escort/Como modess você me trocou”.
A histeria seria plena. Estímulo à violência! Preconceito contra pobre, pretos e fracos! Falta de respeito com a menstruação!
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Enfim, assim como o Escort, como carro chique, atesta o passado em que viveu os Mamonas, suas letras atestam que hoje todo o mundo tem medo de todo mundo. Isso é sintoma de censura, só besta e mentiroso não vê.
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