Se o precedente foi aberto pelo Congresso Nacional e as evidências são, no mínimo, passíveis de investigação, por que não vimos o calvário da presidente petista ser repetido em nível estadual?
Por Marco Faleiro
Apresentado em maio pelo deputado estadual Major Araújo (PRP) o pedido de impeachment do governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) não demorou a ser arquivado. Em menos de duas semanas, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado Hélio de Sousa (PSDB) rejeitou a denúncia justificando que os crimes denunciados não passavam de suposições.
No pedido, o major alegava que se fundamentara na mesma base que serviu para o afastamento (temporário) da presidente Dilma Rousseff (PT). A improbidade administrativa ou pedalada fiscal de Marconi, de acordo com o deputado, seria confirmada por um relatório técnico do Tribunal de Contas do Estado. Ele acusa o governador de ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal em 2014 ao fechar as contas de Governo com insuficiência de caixa e rombo na conta centralizadora de R$ 1,492 bilhão.
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Para aumentar as semelhanças entre os pedidos de impeachment de Dilma e Marconi, outro suposto crime de responsabilidade cometido por Perillo teria sido exposto por interceptação telefônica feita pela Polícia Federal em 2012, durante a Operação Monte Carlo. Na gravação, é possível inferir que a amizade entre Marconi e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Edson José Ferrari tenha interferido na atuação do conselheiro.
Dilma e Marconi
Dilma pedalou. Marconi, possivelmente, também. Dilma foi flagrada em conversa telefônica prometendo ministério a Lula para que este escapasse de investigações criminais. Marconi, por sua vez, pode ter sido beneficiado por um conselheiro do Estado de maneira antiética, assim como o acusado ex-presidente. Mas, ora, se o precedente foi aberto pelo Congresso Nacional e as evidências são, no mínimo, passíveis de investigação, por que não vimos o calvário da presidente petista ser repetido em nível estadual?
No Brasil, sabe-se que o Executivo precisa de uma base sólida dentro do Legislativo para governar. Caso contrário, União, Estado e Município ficam de mãos atadas diante da força das Casas de Lei. Foi o que ocorreu a Dilma, que, ao romper com o afastado presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), perdeu assim o poder de comandar o País. Ela, então, não conseguiu implementar suas reformas fiscais e eleitorais, eventualmente sendo afastada do cargo que já ocupava só no papel.
Mas em Goiás a situação é oposta. A hegemonia marconista é tão grande no Estado, que pode ser lançada em 2016 uma infinidade de candidatos a prefeito por partidos da base aliada: Giuseppe Vecci, Vanderlan Cardoso, Virmondes Cruvinel, Francisco Júnior e Luiz Bittencourt. Além de Waldir Soares, que resolveu abandonar o ninho tucano e lançar voo solo contra os ex-aliados, sem, no entanto, declarar guerra contra o governador.
Collor
Resta só a constatação (já deflagrada por sábios analistas políticos) de que o impeachment não passa de um processo de remoção de presidentes sem maioria no congresso. O senador Fernando Collor de Mello (PTB/AL), presidente impedido em 1992 e talvez maior entendedor do assunto, já cantou a pedra: precisamos do parlamentarismo.
“A hipertrofia de um poder, a centralização das decisões, os excessos burocráticos sob um só comando e a consequente letargia e paralisação da gestão pública – onde o discurso prevalece sobre as ações, e os meios sufocam os resultados -, tudo isso é resolvido com muito mais eficiência pelo parlamentarismo”, disse o ex-presidente em sessão no Senado.
E Paulo Garcia
Já o prefeito Paulo Garcia (PT) padece da mesma doença que fragilizou Rousseff. Lida com uma Câmara Municipal hostil e um vice de quem “recebeu voz de prisão” outro dia. Ainda é tempo de admitir que o “caçador de marajás” tem um pingo de lucidez: passou da hora de rever o falido sistema político em que nos metemos.
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