Quando você pensa que já viu e leu de tudo, surge um motel carcerário construído em tempo recorde (20 dias) com a conivência do mais humilde ao mais graduado integrante da Segurança Pública em Goiás. Nada mais nada menos do que 112 quitinetes, ao custo de R$ 200 mil, projetadas para atender as necessidades físicas e de poder dos detentos da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia. Surreal: as autoridades responsáveis somente mandaram demolir o “pavilhão do sexo” quando o escândalo estava prestes a explodir.
A confissão de culpa do coronel Edson Costa Araújo, secretário interino de Segurança Pública, veio em forma de palavras duras: “Considerei a construção uma afronta. Mandei um trator derrubar tudo. Depois determinei que se investigasse”. Nenhuma vírgula sobre a “astúcia” da equipe de inteligência do órgão, que demorou meses para descobrir a existência do motel carcerário. O entra-e-sai de material de construção na Ala C devia fazer parte da rotina prisional, algo que cidadãos acostumados a histórias – reais e fictícias – de escavação de túnel para fuga estão muito longe de conhecer.
Por enquanto apenas o então diretor da unidade, Marcos Vinícius Alves, foi afastado por ter recebido R$ 70 mil de propina para liberar a construção. O tamanho e a velocidade da obra sugerem uma inusitada cegueira coletiva em dezenas de funcionários da penitenciária, provocando a necessidade de substituição integral no quadro de servidores. Traficantes como Thiago Topete exercem o poder em sua plenitude no presídio, entretanto uma simples denúncia anônima à imprensa já seria suficiente para sepultar os planos arrojados da bandidagem.
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A falência do modelo prisional brasileiro já é de conhecimento público. Os excessos cometidos no Complexo de Aparecida de Goiânia se repetem, em menor ou maior intensidade, em praticamente todos os estados. Como se torna impossível conter a entrada de armas e drogas nas penitenciárias, o mínimo que a sociedade organizada exige é o combate a regalias que desmoralizem o sistema ainda mais. Servidor que acredita não haver remédio para a corrupção nos presídios, do diretor ao funcionário da limpeza, deveria pedir o boné e partir para outra atividade. Quem ali permanece não pode lamentar o leite derramado da podridão prisional.
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