Conhecendo a forma como os problemas vinham sendo resolvidos no Brasil, é perfeitamente compreensível a relutância do comando da Polícia Federal em trocar informações com o Ministério da Agricultura sobre a Operação Carne Fraca. Quantas investigações do mesmo porte já foram abortadas no passado em função do compartilhamento dos fatos e, principalmente, dos nomes dos agentes envolvidos? Os resultados obtidos com o Mensalão e a Lava Jato deram novo alento à PF e ao Ministério Público, entretanto continua imperando no país a cultura da preservação do interesse econômico em detrimento da transparência e limpeza ética.
Relações nebulosas
A Operação Carne Fraca cometeu seus equívocos. E isso ficou claro na interpretação das escutas telefônicas e no habitual estardalhaço obtido com a divulgação. Mas até mesmo os excessos contribuíram para que o brasileiro tomasse ciência do que vinha acontecendo nos bastidores de alguns frigoríficos espalhados pelo país. Se os grandes conglomerados, como BRF e JBS, reclamam da generalização dos fatos e reafirmam o compromisso com a qualidade de seus produtos, por outro lado serão obrigados a explicar relações nebulosas com servidores do Ministério da Agricultura. Viagens e outras vantagens merecem esclarecimentos.
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Vista grossa
O presidente Michel Temer e o ministro Blairo Maggi fizeram questão de enfatizar que apenas 33 funcionários, de um universo superior a 11 mil, são considerados suspeitos de envolvimento nas irregularidades, com destaque ao recebimento de propina para agilizar liberação de lotes de mercadorias e evitar a interdição de unidades frigoríferas. Não é bem assim. Em que pese os dois anos gastos na investigação da Operação Carne Fraca por parte dos agentes da PF, até o recém contratado estagiário do Ministério da Agricultura sabe da existência de servidores que fazem vista grossa para atos ilícitos, lucrando com o silêncio diante de fatos graves.
Discussão obrigatória
O que uma minoria de empresários e formadores de opinião não quer compreender é que a Operação Carne Fraca veio numa excelente hora. Obrigou empresas, consumidores e a grande mídia a discutir a qualidade da carne comercializada em todas as regiões do país. Também provocou a exoneração de superintendentes do ministério em Goiás e no Paraná, além de colocar contra a parede representantes em outros estados.
Efeitos negativos sobre a exportação de carne para 120 países, com destaque para China e Rússia, eram esperados. Eis um momento apropriado para constatar se os produtos brasileiros estão mesmo no elevado patamar de excelência e qualidade que as empresas tanto propagam. Se a realidade for esta, os percalços econômicos serão superados mais rápido do que se imagina.
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