O padre Luiz Augusto percorre quilômetros de distância por uma boa polêmica. Está no seu DNA. Já foi transferido de paróquia por desentendimento com o arcebispo dom Washington Cruz, visitou o empresário Maurício Sampaio na prisão – acusado de ser o mandante do assassinato do cronista esportivo Valério Luiz – e ganhou fama nacional como funcionário fantasma da Assembleia Legislativa por 20 anos. Se faltava algo mais impactante, agora não falta mais. O religioso se transformou em divulgador do livro sobre o serial killer Tiago Gomes da Rocha, autor confesso de 39 homicídios na Região Metropolitana de Goiânia. Como era de se imaginar, a união entre dois personagens tão controversos dividiu opiniões nas redes sociais. Afinal, a justificativa do perdão pode transformar o sacerdote em porta-voz de um matador que nem sequer foi julgado por todos os seus crimes?
É compreensível a indignação dos familiares das vítimas, mesmo aqueles que já perdoaram as atrocidades do serial killer. Não haveria dificuldade alguma em Tiago conseguir apoio para a publicação do livro – sua história é horrenda e cativante ao mesmo tempo. A revolta dos envolvidos é ter de engolir a entrevista do padre ao jornal O Popular, comentando detalhes do conteúdo da obra literária, mudanças na capa e conversão religiosa do matador. Sob o pretexto de estar em contato quase diário com Tiago no presídio, Luiz Augusto chamou para si uma tarefa que extrapola os limites da sua missão evangelizadora. Mas quem disse que o padre polêmico se contentaria em usar a palavra de Deus para discutir o perdão em silêncio. Estamos falando do mesmo sacerdote que ganhou fama por expulsar da igreja mulheres que não estavam vestidas de maneira conveniente.
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Disse Luiz Augusto na entrevista: “Ele (Tiago) fala da retomada da fé, da tranquilidade, da lucidez e da esperança de resgatar a vida daqui a pouco, após cumprir os 30 anos de prisão”. Nota-se o entusiasmo do padre com a evolução espiritual do serial killer, despertando no religioso a chama da vaidade que o transformou em divulgador literário. Tiago da Rocha tem 29 anos e deve ficar preso até por volta dos 60 anos. Ainda não se sabe quantos livros pretende lançar, mas tudo o que ele não necessita é de um assessor de comunicação. Sempre foi solitário na maldade. Nada o impede de fazer o mesmo, desta vez propagando a guinada que a fé promoveu em sua vida. Saia de cena, padre Luiz Augusto! Esqueça os holofotes. Mais forte é o testemunho do pecador convertido.
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