Pouco importam as justificativas. A gestão do vereador Felisberto Tavares à frente da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) foi um fiasco do início ao fim. Ontem ele entregou o cargo ao prefeito Iris Rezende e hoje anunciou retorno à Câmara Municipal. Desfecho de uma tumultuada novela com duração de quase cinco meses, mas que por pouco não passou de alguns dias. Iris perdeu a paciência com seu ex-auxiliar na largada, momento em que ele resolveu reclamar publicamente da terra arrasada na SMT sem pelo menos se esforçar para modificar o quadro.
“O chorão Felisberto e a herança maldita na Prefeitura” foi o título da coluna em que expusemos a crise no relacionamento entre prefeito e vereador antes mesmo da administração municipal completar um mês. Só mesmo um parlamentar desconectado da realidade para não enxergar o caos em que a SMT estava metida. Como esperar retorno político de um órgão que não dispõe de número suficiente de agentes de trânsito, veículos e equipamentos de fiscalização? Sem falar na arrecadação comprometida por uma vergonhosa licitação de fotossensores que se arrasta há uma década.
Felisberto sabia onde estava pisando e acabou atropelado pelos fatos. Já o prefeito Iris Rezende manteve-se frio e distante, avaliando nomes de eventuais substitutos que poderiam lhe causar menos dor de cabeça. Assim caminha uma administração pública. Enquanto isso o cidadão comum, que nada tem a ver com a falta de comprometimento dos últimos gestores de Goiânia com a área do trânsito, sofre para não entrar nas estatísticas de acidentes e atropelamentos. Tarefa difícil numa terra sem lei e com sinal verde para a imprudência sobre rodas.
Janeiro
Em janeiro deste ano, a coluna já havia tratado do assunto. Relembre:
O chorão Felisberto e a herança maldita na Prefeitura
Nem 30 dias se passaram e já tem auxiliar do prefeito Iris Rezende ameaçando jogar a toalha. Em desabafo à coluna Giro, do jornal O Popular, Felisberto Tavares (PR) insinuou a possibilidade de deixar a Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) em função do quadro de terra arrasada encontrado por ele no órgão. “Abusaram da irresponsabilidade na SMT. Nestas condições fica difícil permanecer”, ressaltou o vereador licenciado.
Zero de comprometimento
A declaração de Felisberto dá o tom do nível de comprometimento de alguns auxiliares de Iris Rezende com a recuperação administrativa de Goiânia. Formada em sua maioria por políticos, muitos com a cabeça voltada somente para as urnas, a equipe treme nas bases ao primeiro sinal de desgaste da imagem pública. O prefeito tem noção da colcha de retalhos que foi obrigado a montar e não tem muita expectativa sobre o retorno que ela pode proporcionar. Isso ficou claro na reunião administrativa com o governador Marconi Perillo, quando Iris esteve acompanhado apenas do seu chefe de gabinete Paulo Ortegal, ex-conselheiro do TCM.
Felisberto esquece que a herança maldita deixada pelo ex-prefeito Paulo Garcia (PT) – avaliada em R$ 800 milhões – atinge todos os órgãos, indistintamente. Basta uma rápida conversa com o secretário de Finanças Oseias Pacheco, responsável pelo levantamento, e com Denes Pereira, presidente da Comurg, empresa mais afetada pelo desequilíbrio financeiro municipal.
Pelo andar da carruagem, o presidente da SMT deverá deixar mesmo o cargo. A não ser que recobre os sentidos e lembre que foi o peemedebista Iris Rezende quem destacou qualidades do ex-deputado Paulo Garcia aos eleitores da capital em 2008 e, posteriormente, na campanha à reeleição do petista em 2012. A dívida administrativa de Paulo, neste momento, se equivale à dívida moral de Iris em consertar os estragos deixados pelo antecessor. Sem choro nem vela.
O eleitor da capital ainda não esqueceu o pedido de desculpas do ex-governador durante a campanha do ano passado. “Eu errei. Quem nunca se equivocou nas escolhas ao longo da vida”, lamentou Iris. Desta forma, chega de blá-blá-blá e mãos à obra. Com ou sem o chorão Felisberto Tavares à frente da SMT.
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