A quarta temporada de Black Mirror foi disponibilizada pela Netflix na última sexta-feira, 29, e selou definitivamente a entrada da série no gênero “maratona”.
Dentro desse novo paradigma, o seriado deixou de ser denso ou de requirir tempo para reflexão. Agora é mais outro do portfólio da empresa que tem como aparente objetivo único espichar o gráfico “horas/expectador”.
São seis episódios no quarto ano da série que, no todo, já exibiu 19 histórias diferentes, contando o especial de natal. Interessante destacar que os capítulos realmente marcantes e desesperadores ficaram lá atrás, na época de Channel 4.
Citando o que um amigo disse outro dia, agora já se somam mais episódios ruins do que bons. Péssima meta alcançada.
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Não se trata de preciosismo ou de ser anacrônico a ponto de desejar que o futuro não aconteça. Trata-se de uma análise metódica.
Em uma boa ficção científica, não basta que a tecnologia futurista seja plausível, mas que as pessoas sejam verossímeis. E a quarta temporada conseguiu falhar nos dois quesitos, alternadamente.
O pior
De cara, o primeiro episódio (“USS Callister”) traz, em uma paródia de Star Trek, um texto de extremo mal gosto e uma sucessão de eventos tão atrapalhada que poderia ter sido concebida por qualquer adolescente com capacidade suficiente para não zerar a redação do Enem.
Isso sem falar na suspensão de descrença necessária para acreditar nos personagens simulados e, pior, na máquina capaz de ler o DNA presente em um copo de café e simular a personalidade e as memórias de um indivíduo.
O melhor
O melhor episódio, sem dúvida, é o quinto. “Metalhead” é simples e não incorre no erro de se auto-explicar constantemente como os roteiros dos outros capítulos.
A experimentação visual é interessante e a tensão é capaz de dar sobressaltos aos expectadores mais envolvidos.
Uma menção ao sexto episódio também é imprescindível. Reunindo várias histórias em si, “Black Museum” foi original e referenciou outros momentos da série, apesar do final um pouco aquém das expectativas.
Conclusão
O criador da série, Charlie Brooker, segue na autoria de toda a temporada. Só o tempo parece ser o grande inimigo da equipe de criação.
Enquanto a segunda temporada teve dois anos para ser lançada (com três episódios, diga-se) as mais de seis horas de entretenimento televisivo do quarto ano foram lançadas um ano após suas predecessoras.
Black Mirror virou algo dispensável? Não, de maneira alguma. Mas os bons momentos da série, sem dúvida, tornaram-se mais rarefeitos.
A coluna é publicada semanalmente às quintas-feiras.
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