“Procura-se desesperadamente por um cão da raça… Paga-se recompensa”. Anúncios como este estão se tornando muito comuns nos bairros de Goiânia, especialmente no Jardim América, um dos maiores setores da capital. Os textos geralmente são anunciados em panfletos, faixas colocadas nas ruas, carros de som e sites na internet, e são um claro sinal de que cachorros de raça têm se tornado alvos de ladrões, que os roubam para si mesmos, ou para vender ou ainda para obterem as recompensas oferecidas pelos donos dos animais.
Segundo a veterinária, presidente do conselho deliberativo do Kennel Clube de Goiás, Maria Eliza Rizzini, muitas pessoas aparecem no seu consultório, localizado no Setor Bueno, contando histórias sobre cães roubados. “É um crime muito comum e que traz um grande sofrimento para os donos dos animais”, declara.
A maioria dos casos acontece quando cães de raça, bem cuidados, fogem de suas casas e se deparam com pessoas mal intencionadas no caminho, que se apoderam dos animais e não os devolvem mais, ou devolvem de olho no dinheiro oferecido pelos donos desesperados. “Esses cães que são roubados geralmente são animais bonitos, que chamam a atenção. Donos de cachorros assim têm de tomar muito cuidado com eles, já que são tão visados”, destaca a veterinária.
De acordo com o titular da Delegacia Estadual de Meio Ambiente, o delegado Luziano Carvalho, o roubo de cachorros é considerado crime de furto e as pessoas que tiverem seus cães roubados devem registrar Boletim de Ocorrência na delegacia de polícia mais próxima do local onde o animal sumiu. “Infelizmente o roubo de cães ainda é visto como um roubo de coisa, mas acredito que isso um dia mude, já que o cachorro não é uma coisa, é um ser vivo que tem sentimentos e o seu roubo causa graves transtornos aos seus donos”, disse.
Maria Eliza diz que, em alguns casos, o oferecimento de recompensa ajuda outras pessoas a encontrarem os animais. “Muita gente fica atenta e procura pelo animal desaparecido quando vê que está sendo oferecida uma recompensa. Existe um programa de TV que anuncia animais desaparecidos e tem pessoas que assistem só para tentar encontrar e assim receber o dinheiro oferecido”, conta.
O biomédico Bráulio Fernando Goulart, de 55 anos, morador do Jardim América passou por maus bocados quando a sua cachorra da raça Shar Pei foi roubada. Felizmente, Bráulio descobriu por meio de testemunhas quem tinha roubado sua cachorra e depois de ir a uma delegacia conseguiu tê-la de volta. “A minha cachorra, que estava no cio, aproveitou um descuido meu, quando técnicos arrumavam o meu portão eletrônico e fugiu. Apenas duas horas depois percebi que ela não estava em casa”, lembra.
Desesperado, o biomédico resolveu perguntar para pessoas da vizinhança se elas tinham visto a cachorra. “Eu explicava como ela era e muita gente dizia que tinha visto, mas fiquei até às 18 horas procurando sem uma pista de quem a tinha pegado”, ressalta.
Transtornado, Bráulio continuou perguntando até que entrou em uma padaria que fica nas proximidades do local onde costumava passear com ela. “Uma pessoa na padaria disse que tinha visto a cachorra e que ela tinha passado pela rua de trás do estabelecimento. Fui lá e consegui a informação que um homem a tinha pego de moto. Essa pessoa também me falou onde eu poderia encontrar esse homem, que tinha um comércio na região. Eu fui até o local e os funcionários disseram que ele não estava lá”, conta.
Bráulio conseguiu o telefone do ladrão da sua cachorra e contou a história para um policial militar que patrulhava a região. “Ele me aconselhou a ir até a delegacia e foi o que eu fiz. Registrei um Boletim de Ocorrência e o escrivão que estava lá ligou para o homem que foi visto pegando a minha cadela” recorda.
O biomédico conta que o homem confirmou ao escrivão que estava com o cão e que iria soltá-lo e foi informado que teria que arcar com as conseqüências caso fizesse isso. “Então resolvi ir até o comércio dele pedir a cachorra de volta e ele acabou me devolvendo. Ele me disse que tinha um cão da mesma raça e que por isso a pegou, o que não é justificativa para o roubo”, falou.
A situação causou um grande trauma para toda a família, conforme Bráulio. “Eu, minha esposa e meus três filhos sofremos muito. A nossa cachorra é um membro da família e sua perda é irreparável, como acho que é para todas as pessoas que perdem seus cães”, salienta.
Ladrão pulou o muro
Jefferson Souza dos Santos, de 28 anos, também teve seu cachorro roubado. Mas no caso dele, o animal ainda não foi encontrado. “Meu cachorro da raça Chow-chow, chamado Spock, foi roubado de dentro da minha casa de madrugada”, relata. Segundo Jefferson, que também mora no Jardim América, havia marcas de sapatos no muro da sua casa no dia que ele percebeu que o cão havia sumido logo de manhã.
Jefferson desconfia que a pessoa que roubou o seu cão sabia que ele era filhote e planejou o roubo. “Acho que a pessoa que roubou tinha intenção de vender”, afirmou. Preocupado com a esposa, que ficou inconsolável com o roubo, Jefferson espalhou panfletos em comércios da região com fotos do cão e o oferecimento de uma recompensa. “Temos esperança que alguém que tenha visto meu cão possa aparecer com alguma pista do paradeiro dele, ou que o próprio ladrão nos devolva ele em troca do dinheiro”, declarou.
Microchip
Segundo a veterinária Maria Eliza, tecnologias têm sido desenvolvidas para ajudar na resolução de problemas relacionados a cães desaparecidos, como a implantação de microchips nos cachorros que trazem suas informações. “Com o chip, o cachorro passa a ter um documento, e o dono quando o encontra pode provar que o animal é dele. Acontece muito de pessoas localizarem o cão sumido e não conseguirem provar que ele é seu para tê-lo de volta”, observa.
Veterinários sugerem que a implantação do microchip seja feita no cachorro quando ele ainda é filhote. “O chip é menor que um grão de arroz e o valor para a implantação é de R$ 50”, revela. Maria Eliza, que é integrante do clube dos cães de Goiás, o Kennel, diz que o uso do microchip nos cães que possuem títulos é mais corriqueiro. “Seria ótimo se todos os donos de cães de raça passassem a ter esse costume”, completa.
Camila Blumenschein
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