A capa de um jornal de grande circulação destaca: “De preto, Rotam volta às ruas”. O comando libera a “onça” e a população aplaude na tentativa de se convencer que está mais segura. O noticiário do rádio, escutado durante os inúmeros congestionamentos, anuncia, com considerável satisfação, que jovem baleado por policial durante tentativa de assalto acaba de falecer no Hugo. Espalha-se um sentimento de euforia e a população, mais uma vez, aplaude a boa nova.
Não se trata de estar de um lado ou de outro, com o bandido ou com o mocinho. Essa nova visão da população é perfeitamente compreensível quando é constatada a leniência do Poder Judiciário, as brechas da legislação brasileira e a corrupção nas entranhas do Poder Legislativo. Ao sentir-se abandonado, o cidadão encontra nos meios “alternativos” de defesa sua única esperança. Cercas elétricas, câmeras de vigilância, segurança particular, condomínios, etc., fazem de sua residência ou local de trabalho uma verdadeira fortaleza. A polícia nas ruas, atirando a queima-roupa em suspeitos e “apagando” os marginais, traz a sensação de que o mundo lá fora ainda é habitável. Mas quem são os reais beneficiados e os reais prejudicados desta história?
É sabido por uma considerada parcela da sociedade, que o crime é um fenômeno complexo com muitas variáveis. Uma área do conhecimento chamada Criminologia, demonstra que não se combate o crime apenas com mais Leis, maiores penas e mais polícia. Há que programar e implementar políticas públicas de inclusão, principalmente no que tange a educação. O esclarecimento do homem, tornando-o cidadão, é o primeiro passo em direção ao princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
A busca por este princípio deveria nortear toda e qualquer ação do homem público, eleito com esta finalidade, todavia, este mesmo esclarecimento “destronaria” aqueles que há anos vêm governando este país. O Direito posto como a legitimação da opressão e da exploração imposta pela classe política dominante, condenando o pobre e absolvendo o rico, está agradando… Então, por que mudar?
Se solta a onça, mata-se o pequeno, condena-se o miserável e mantenha o povo sob cabresto, iludido pelas muralhas de sua fortaleza.
Gustavo F. Vidigal (foto) 1º Ten. R2 do Exército Brasileiro, Consultor em Segurança, Administrador e acadêmico de Direito
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