Antigamente bastava a pessoa estar como uma dor de cabeça para chamá-la de enxaqueca. Há cerca de 30 anos, isso mudou. De acordo com o neurologista Paulo Sérgio de Faria, existem hoje quase duas centenas de tipos de dores de cabeça ou cefaleias, que são classificadas e ordenadas pela Sociedade Internacional de Cefaleia. A enxaqueca tem como principais características a dor de cabeça de moderada a intensa, pouco tolerável e incapacitante.
Paulo Sérgio destaca que a enxaqueca acomete grande parte da população, na maioria mulheres. “Cerca de 20% das mulheres do mundo são acometidas pela enxaqueca e 6% dos homens sofrem com a doença”, conta. A doença, conforme o médico, é a que mais leva um indivíduo a procurar assistência médica.
Segundo o neurologista, existem as enxaquecas com aura e as sem aura. “As enxaquecas sem aura são aquelas em que não surgem outros sintomas antes ou acompanhando a dor, e as com aura são antecipadas de outros sintomas que podem ser divididos em três tipos”, explica.
A aura pode ser do tipo visual, quando a pessoa vê manchas luminosas ou escuras, que atrapalham a visão – chamadas de escotomas – que duram entre 5 e 60 minutos e aparecem normalmente antes da dor de cabeça. “Muita gente tem a aura sem sentir a dor e nem toda crise será antecipada de aura”, acentua Paulo Sérgio.
A aura também pode ser do tipo sensitiva, ou seja, a pessoa tem a sensação de adormecimento ou formigamento de um lado só do rosto ou em um membro superior como o ombro. “Às vezes adormece um lado todo do corpo da pessoa, também com duração de 5 a 60 minutos, antes do surgimento da dor”, observa.
E por último, há o tipo mais raro de aura, a afásica, caracterizada pela dificuldade para a pessoa falar ou para compreender o que lhe é dito. “Cerca de 80% das pessoas que sofrem de enxaqueca não têm aura. Aquelas que têm, se assustam com os sintomas que se assemelham aos sintomas de um AVC, por exemplo”, afirma o neurologista.
Repouso
A dor da enxaqueca pode ocorrer de forma lateral, mas também pode ser bilateral, ou iniciar de um lado e depois propagar para outro. “A dor é quase sempre latejante e leva o indivíduo a buscar repouso longe de claridade, barulho e odores. Esses fatores para quem está tendo uma crise de enxaqueca são intoleráveis”, esclarece.
Náuseas e vômitos também são sintomas que podem acompanhar a dor, o que conforme o médico, levam muitas pessoas a achar que a enxaqueca tem relação com problemas gástricos, o que é errado, pois este tipo de reação ocorre porque há uma ativação do sistema nervoso central. A enxaqueca também pode piorar com a prática de atividades físicas. “Mesmo atividades mais simples como andar podem piorar uma crise, por isso, as pessoas procuram repouso extremo”, conta.
Genética e ativação
A enxaqueca é uma doença genética, familiar, mas os médicos ainda não descobriram onde está localizado o defeito genético. Vários fatores são considerados ativadores das crises, mas não são as causas da doença.
A enxaqueca pode ser desencadeada por alterações de humor, como ansiedade, estresse e depressão, alterações hormonais, contato do indivíduo com odores variados e intensos, aumento da temperatura do corpo como exposição ao sol, além da ingestão de alimentos gordurosos, aqueles com excesso de cafeína, frutas como melancia e abacate, temperos com glutamato, adoçantes e bebidas alcoólicas como vinho.
Paulo Sérgio enfatiza que a pessoa que tem crises frequentes, ou seja, diárias, e que começam a utilizar excessivamente analgésicos passam a sofrer mais ainda com as dores. “O excesso de analgésicos deixa o cérebro mais sensível e a dor pode se tornar crônica. Para essas pessoas é ideal o tratamento preventivo”, ressalta.
O tratamento preventivo, de casos em que uma crise pode durar três dias e que ocorrem com frequência aborda psicoterapia (que trata o fator emocional), acupuntura e também o biofeedback, que é um aparelho que capta informações do organismo da pessoa, interpreta e com isso o profissional pode orientar o paciente de que forma evitar as crises.
O diagnóstico da enxaqueca é essencialmente clínico. A pessoa passa por um exame neurológico em que o médico faz questionamentos e medica o paciente. Segundo o neurologista, não existe um exame laboratorial que confirme a doença. As crises de enxaqueca podem durar de 4 a 72 horas no máximo.
O tratamento da doença é diferente para os indivíduos que possuem crises esporádicas – que ocorrem até duas vezes em um mês – e para aqueles que têm as crises mais frequentes. “Para o primeiro caso são receitados desde analgésicos comuns até medicações mais específicas, que bloqueiam a crise, o que vai depender de cada paciente. Já para os casos mais graves podem ser indicadas medicações injetáveis, que o próprio indivíduo pode aplicar e o tratamento preventivo”, explica.
O arquiteto Alexandre Thomé Mendonça, sofre com as enxaquecas, que não aparecem com frequência, mas que quando surgem tornam o momento um verdadeiro pesadelo. “Sei quando vou ter enxaqueca, pois vejo manchas claras e escuras. Depois elas somem e vem aquela dor insuportável”, conta.
De acordo com Alexandre, cheiros de qualquer tipo, barulhos e luz são intoleráveis no momento da crise, que segundo ele ocorrem a cada três meses e geralmente quando ele está estressado ou quando o seu corpo enfrenta mudanças bruscas de temperatura. “Sempre tive enxaqueca e nunca pensei em procurar um médico porque sempre ouvi dizer que não existe cura. Mas com certeza, se minhas dores fossem frequentes, o que não é o meu caso, procuraria um tratamento porque não dá para conviver com essa dor, que é horrível”, declara.
Camila Bluemenschein
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