Luta e perseverança. Estas foram as palavras escolhidas por Isany Dias dos Santos, de 72 anos, para definir sua trajetória frente ao comércio montado por ela há 30 anos, a Mercearia Real, que fica na Avenida C-1, no Jardim América, próximo ao Cepal. Quem costuma saborear os lanches vendidos na mercearia sabe da dedicação de Dona Isany ao seu trabalho. Ela acompanha tudo, participa da preparação das quitandas e dos salgados e faz questão de passar o dia no caixa, recebendo e conversando com seus clientes.
A rotina de dona Isany começa cedo. Às 4h40 da manhã ela levanta, e às 5 horas já está na cozinha pronta para preparar duas massas (bacias) de pão de queijo. Enquanto isso, suas funcionárias vão chegando e preparando as outras quitandas, as rosquinhas e os biscoitos. O salgadeiro também chega, pega a massa que já está pronta e começa a montar os salgados.
Depois do pão de queijo, a cozinheira de mão cheia prepara a massa de pastel e faz 10 litros de café. “Se eu não levantar bem cedo, às 7 horas quando abro e mercearia não tem nada pronto. Aqui tudo é vendido bem novinho e fresquinho”, conta. Às 6h40 dona Isany se reúne com seus 11 funcionários para fazer uma oração antes de abrir as portas.
A preparação dos lanches se repete novamente à tarde, e assim Isany leva sua vida e seu comércio com alegria, até às 19 horas, quando fecha o estabelecimento. “Gosto muito de trabalhar. Brinco com as pessoas que se eu ficar sem trabalhar os nervos enferrujam”, fala.
Antes de vender os lanches, chamados carinhosamente por muitos clientes de lanchinho, a mercearia era um minisupermercado. “Eu abri a mercearia junto com o meu marido no mesmo lugar. Na época não era suficiente para sustentarmos nossos cinco filhos, então eu ficava na mercearia enquanto ele saía para trabalhar”, lembra.
Tragédia
Em 1979, uma tragédia se abateu na família. O marido de dona Isany, Gregório José dos Santos, então com 45 anos, foi assassinado dentro da mercearia. “Era de madrugada ainda, 5 horas da manhã, quando ouvi o barulho dos tiros. Quando cheguei na loja, o vi caído no chão. Houve um assalto e acho que ele reagiu, porque ele era muito enérgico”, conta.
Apesar de toda a tristeza, dona Isany não quis parar de trabalhar, mesmo com os filhos pedindo para que ela fechasse a mercearia. “Eu insisti e venci”, diz, emocionada. Mas continuar não foi nada fácil, já que muitos supermercados foram abertos na região. “Resolvi que iria vender lanche. Como eu sabia fazer rosquinha frita e pão de queijo, fazia um pouco e colocava em um pratinho em cima do balcão e vendia”, relata.
Dona Isany então fritava as rosquinhas no fogão de quatro bocas, enquanto o pão de queijo assava no forno embaixo, esquentando suas pernas. “Até que meu genro me deu dinheiro pra eu comprar um forno ou um fogão. Escolhi o fogão de seis bocas que tem um forno maior. Também contratei uma funcionária para me ajudar”, ressalta.
Os clientes se apaixonaram pelo sabor das rosquinhas e com isso dona Isany aumentou a variedade dos lanches. O número de funcionárias passou para três, mas a dificuldade continuava, pois a quitandeira não tinha capital para comprar os ingredientes para fazer as quitandas em grande quantidade. “Todos os dias eu tinha que comprar os ingredientes aos pouquinhos”, lembra.
Dona Isany continuou perseverante até que as coisas foram melhorando e a produção aumentou. Hoje há quatro fogões grandes na cozinha. As prateleiras da mercearia que ficavam no meio do estabelecimento foram afastadas e deram lugar às mesas e cadeiras onde são servidos os lanches. “Eu não quis acabar com as mercadorias, então eu deixei o básico. Tenho produtos para compras rápidas”, diz.
A quitandeira, que além de trabalhar gosta muito de passear, se diz bastante satisfeita com a mercearia, suas funcionárias que a ajudam a cuidar do local e com sua família. “Entrego tudo aos cuidados de Deus e sei que Ele me ajuda”, declara.
Camila Blumenschein
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