O escancarado “miserê” da vez
O desabafo do procurador Leonardo Azeredo dos Santos, 28 anos de carreira no Ministério Público de Minas Gerais, deveria virar tema obrigatório de discussão nas salas de aula país afora.
Sinceramente, gostei quando ele cobrou urgência no reajuste salarial, chamou de “miserê” os R$ 24 mil que recebe mensalmente, anunciou redução brusca no uso do cartão de crédito (20 mil para 8 mil) e, por fim, questionou: “Vamos virar pedintes?”
O áudio foi captado em agosto, durante reunião reservada no MP, e somente divulgado na última segunda-feira. Diante da esperada repercussão negativa, o procurador não teve peito pra bancar suas declarações e sumiu do gabinete.
Falta coragem
Leonardo Santos perdeu excelente oportunidade de escancarar a realidade. Basta dizer que a imensa maioria dos colegas pensa como ele, mas não tem coragem de assumir.
O procurador também pode recomendar à imprensa – e manifestantes contrariados – que mantenha contato com representantes do Judiciário, dos Tribunais de Contas, do Congresso Nacional e do Governo federal.
Nesses ambientes não serão ouvidas reivindicações explícitas de reajuste nos polpudos vencimentos, mas sim a necessidade de correção da defasagem salarial. Dá no mesmo.
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Bom jornalismo dá trabalho!
A distância na comparação com a realidade de um trabalhador – aquele do salário mínimo ou da informalidade – jamais deixará de ser chocante.
Leonardo Azeredo dos Santos apenas virou a bola da vez por ter sido flagrado num dramalhão mexicano de quinta categoria. “Com ajuda de antidepressivos eu vou sobreviver”, afirmou.
Vai sim, procurador. E o cidadão comum também continuará sobrevivendo às desigualdades socioeconômicas. Os áudios de “miserê explícito” reforçam o tamanho do abismo.
Ouça:
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