A resenha é sempre a mesma em véspera de aumento da passagem do transporte coletivo de Goiânia e Região Metropolitana: pesquisas, notas e avaliações do usuário e de especialistas. Tudo para discutir algo que já foi acordado nos bastidores, ou seja, reajuste de 30 centavos – R$ 3,70 para R$ 4,00. A cortina de fumaça extrapola o limite do bom senso ao discutir a qualidade de um sistema reconhecidamente ruim, que ignora as reais necessidades dos protagonistas dos terminais e dos pontos de ônibus.
Zero de compensação
Autoridades públicas e empresários do setor sequer se preocupam em anunciar ampliação ou mesmo renovação de parte da frota de veículos como justificativa para o reajuste anual. Tudo é feito na base do “se está ruim, pode piorar” caso o acréscimo não seja concedido. Impossível compreender a matemática de quem só fala em prejuízos na gestão do sistema – principal argumento do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia – mas não admite a participação de empresas de fora no processo licitatório.
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Usuário cansou de reclamar
Aliás, muito foi prometido de 2008 pra cá. Empresas e CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos) estão com passivo de quase uma década. Apenas quatro terminais foram realmente reestruturados, maioria dos pontos de ônibus está abandonada e centenas de veículos permanecem parados enquanto um número reduzido circula com lotação acima da capacidade. Os usuários se conformaram de tal maneira com o abandono à própria sorte que abdicaram do direito de reivindicar melhorias. O transporte coletivo da região metropolitana de Goiânia é tratado como um caso perdido.
Futuro sombrio
A relação custo-benefício entre o valor pago pela passagem e a qualidade do serviço oferecido é quilométrica. Não é por caso que milhares de pessoas têm deixado de utilizar o ônibus, recorrendo a bicicletas, motos ou mesmo ao sistema por aplicativos, como o Uber. O futuro continuará cada vez mais sombrio para as empresas do transporte coletivo se não houver uma significativa valorização do usuário. Goiânia já foi considerada capital-exemplo para o país na década de 1980, hoje carrega o título de um dos sistemas mais desiguais e defasados. Respeito e compromisso dos responsáveis – público e privado – ficaram pelo caminho.
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