Chapecoense: não se brinca com fatalidade
Se já não bastasse a tragédia aérea envolvendo dezenas de profissionais da Chapecoense, dirigentes esportivos, convidados e tripulantes, a imprensa brasileira teve o dissabor de noticiar a morte de colegas de profissão na madrugada desta terça-feira. Por isso não considero justo individualizar a cobertura, contar histórias como se uma fosse mais relevante do que a outra. O jogador, o técnico, o narrador, o cinegrafista, o cartola, a aeromoça, enfim, todos carregavam particularidades em suas vidas que merecem ser divulgadas. O insuportável é lidar com o sensacionalismo barato.
Comentário infeliz
Certos profissionais aproveitam momentos de dor e de grande comoção para inventar factoides, fomentar polêmicas e estimular discórdias. Em poucos minutos surgiram “especialistas” em aviões fretados, manutenção de aeronaves, trajetos de voo e condições meteorológicas. Nunca vi tanta baboseira reunida. O polêmico apresentador Milton Neves, da Rede Bandeirantes, decidiu brincar com o acaso e postou nas redes sociais que os profissionais da Chapecoense e da imprensa não estariam naquele voo se o goleiro Danilo não tivesse operado um verdadeiro milagre nos últimos instantes do jogo com o San Lorenzo pela semifinal da Copa Sulamericana, em Chapecó.
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Melancia na cabeça
Milton Neves simplesmente perdeu a oportunidade de ficar calado. Foi bombardeado por centenas de internautas em função do comentário infeliz. Nenhuma maldade premeditada na cabeça do jornalista, é óbvio, mas revelou-se insensível e impertinente. “São gracinhas deste tipo que acabam por te deixar mal. Infeliz comentário, mas compreensível”, dispararam seus seguidores. Em minutos se estabelece uma competição para ver qual jornalista coloca a maior melancia na cabeça. Sobrou até pra Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pela demora no anúncio do adiamento da final da Copa do Brasil. Seus dirigentes, aliás, deviam estar dormindo, como de costume.
Atenção ou audiência
Tive contato pessoal apenas com o técnico Caio Júnior e o cinegrafista Ari Júnior, dois excelentes profissionais. Respeito, da mesma forma, a trajetória das demais vítimas fatais da tragédia e daquelas que ainda poderão, milagrosamente, escapar com vida. O que é preciso compreender: o filho do treinador esqueceu o passaporte e não embarcou, o repórter foi escalado de última hora, o jogador sentiu uma lesão e ficou em Chapecó, o ex-dirigente decidiu ir mesmo sofrendo verdadeiro pânico de avião. Tudo isso tem um único nome, caríssimos colegas de profissão: FATALIDADE! O resto é tentativa de chamar atenção ou ganhar audiência.
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