Dois médicos foram presos em Goiânia após força tarefa realizada pela Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso de Goiânia (DEAI), que investigou a morte de 2 idosos, em 2016 e 2022.
A partir da operação, denominada Hipócrates, a Polícia Civil (PCGO) constatou que houve erro médico nos dois casos.
Negligência
Edmundo Elizário Galvão morreu, aos 88 anos, em 10 de maio de 2022, no Hospital São Silvestre, em Aparecida de Goiânia.
O idoso foi internado na unidade 3 dias antes, após ser transferido do Hospital do Coração de Goiás, em Goiânia, pela necessidade de realização de neurocirurgia.
A internação no Hospital do Coração aconteceu, a princípio, por suspeita de dengue, mas a administração de medicamentos e um acidente no local, conforme apontamento da Polícia Civil, levaram à evolução do caso para fatalidade.
A Folha Z ouviu o genro de Edmundo, José Américo dos Santos, que contou detalhes do tratamento.
Nas redes sociais, ele já havia divulgado vídeo lamentando as inúmeras negligências cometidas pela equipe médica e, principalmente, do cardiologista de confiança da família.
http://twitter.com/FolhaZ/status/1707140178882547824
Suspeita de dengue
O idoso morava em Rubiataba, a 220 quilômetros de Goiânia, e visitava a capital para a realização de exames com um cardiologista de confiança da família por 15 anos.
Certo dia, em Brasília, Edmundo realizou exames de sangue que constataram um índice muito baixo de plaquetas, levantando suspeitas para dengue.
O cardiologista foi informado sobre o caso e solicitou a repetição do procedimento, que confirmou o resultado anterior.
A partir daí, o médico pediu que Edmundo fosse encaminhado para o Hospital do Coração de Goiás, onde foi submetido a diversos exames de detecção de dengue.
Segundo José Américo, todos os resultados deram negativo para o vírus.
Internação
Mesmo com as negativas em exame, Edmundo precisou ser internado, apresentando piora do estado de saúde, agitação e infecção urinária.
Nesse momento, Edmundo estava sendo tratado com Quetiapina, um antipsicótico para tratamento de diversos transtornos como bipolaridade, esquizofrenia, casos de ansiedade e depressão.
O objetivo era acalmar o estado de agitação do paciente, que via a condição de saúde piorar.
Após a realização de exames no Hemolabor, o filho de José Américo, que é médico, notou no prontuário do idoso que ele estava infectado pela bactéria conhecida como KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase).
A transmissão da KPC ocorre em ambiente hospitalar, quando protocolos básicos de desinfecção e higiene não são seguidos.
Além disso, o filho do genro notou no prontuário que o idoso estava tomando antibióticos que não combatiam a KPC.
A partir das observações, o cardiologista realizou a troca dos remédios, mas não viu os efeitos desejados.
O estado de saúde de. Edmundo continuou piorando, e ele foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital.
Na UTI
No dia 6 de maio de 2022, por volta das 23h, Edmundo caiu do leito da maca, batendo sua cabeça no chão.
No dia seguinte, uma de suas filhas notou que a orelha do pai estava com um grande hematoma, mas nenhum dos médicos soube dizer o que tinha acontecido.
A filha de uma paciente que testemunhou o ocorrido, porém, relatou à família que a equipe médica tinha conhecimento sobre a queda.
A família, indagada, questionou o cardiologista de confiança se ele sabia sobre o caso, e ele também negou.
Segundo José Américo, o profissional ainda afirmou que esteve na UTI e checou as câmeras que, de acordo com o médico, mostravam claramente Edmundo deitado em seu leito.
Óbito
O estado do idoso só piorava, e o Hospital do Coração não tinha estrutura para a realização de uma neurocirurgia.
Dessa forma, ele foi transferido para o Hospital São Silvestre, em Aparecida de Goiânia, para o procedimento.
No entanto, 3 dias depois, no dia 10 de maio de 2022, Edmundo veio a óbito devido a hemorragia no cérebro.
Revelações do Inquérito policial
Iniciadas as investigações, a PCGO notou diversos pontos de negligência no tratamento de Edmundo.
Angela, uma das filhas do idoso, alertou o cardiologista durante a transferência à UTI para que a Quetiapina fosse suspensa no tratamento.
http://twitter.com/FolhaZ/status/1707137585728860651
No entanto, o prontuário da unidade revelou que ele não deixou de ser medicado com o antipsicótico.
Além disso, a assistente do cardiologista confirmou que o profissional não estava na UTI quando o paciente caiu da cama.
A polícia constatou ainda que não havia câmeras no local do acidente, como mencionado pelo profissional.
O médico responsável estava no hospital quando Edmundo sofreu a queda, sabia do ocorrido, mas não adotou o protocolo para um paciente de alto risco.
Diante dos fatos, o profissional responsável na UTI e o cardiologista foram indiciados por homicídio culposo na forma de negligência.
A Folha Z tentou entrar em contato com o Hospital do Coração de Goiás e o Hospital São Silvestre, mas ambas não deram resposta.
Enilda Aparecida Galvão Rezende, outra filha de Edmundo, realça a confiança da família para penalizar os indiciados.
Enilda Aparecida Galvão Resende, outra filha da vítima: pic.twitter.com/tvkCEQo54f
— Folha Z (@FolhaZ) September 27, 2023
Inquérito divulgado também analisava outro caso
O 2º caso se refere ao idoso Sebastião Amorim, de 75 anos, internado no dia 27 de abril de 2016 para realização de cirurgia de angioplastia transluminal por vaso.
Ele estava sob os cuidados de um conceituado hospital de Aparecida de Goiânia, segundo inquérito da PCGO.
O idoso teve complicações oriundas do procedimento que não foram atendidas pelo médico que realizou a cirurgia.
15 dias depois, a vítima faleceu.
O médico responsável foi indiciado por homicídio culposo pela negligência.
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