Leandro de Castro
“Eu não tinha nenhum tipo de suporte, faltava acolhimento e entendimento por parte da sociedade, mas, com a inauguração desse espaço, minha vida mudou totalmente.”
Esse é o relato de Wellen Silva, mãe de uma criança com autismo e que viu sua realidade ser transformada com a implantação do Centro de Atenção à Criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em Goiatuba, cidade localizada no Sul goiano.
Fruto de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) com o município, a unidade foi inaugurada em junho deste ano e já atende 65 crianças na primeira infância, com idades de até 5 anos, 11 meses e 29 dias.
Com uma estrutura completa e atendimento que une ciência e sensibilidade, o centro conta com uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, neuropsicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e nutricionista.
Espaço de acolhimento
Além de promover o desenvolvimento infantil de maneira abrangente e integrada, a unidade também oferece suporte emocional e orientação para as famílias, capacitando-as para lidar com os desafios diários que acompanham o autismo.
Mãe do pequeno Rodolfo, de 5 anos, Wellen Silva destacou a importância do projeto para a evolução do filho e o apoio que passou a receber com a implantação do espaço.
“Há muito tempo eu esperava por isso, e esse acompanhamento tem feito maravilhas para o meu filho. Antes, ele era mais nervoso, não se alimentava corretamente, precisava tomar medicamentos devido ao estresse e ao barulho e tinha muita dificuldade de interação na escola. Agora, tudo isso melhorou. Ele parou de tomar os medicamentos, come de tudo e até as sessões com a nutricionista já foram suspensas. Hoje, ele consegue interagir e brincar com outras crianças. É um trabalho surreal”, disse.
Ainda segundo ela, a unidade também é um espaço de apoio e de troca de experiências, onde as famílias podem compartilhar vivências, receber orientações e encontrar suporte emocional.
“Antes, eu não tinha nenhum tipo de assistência e, se não fosse por esse centro, teria que ir para Goiânia toda semana em busca de acompanhamento. Por isso, só tenho gratidão por tudo o que esse espaço e os profissionais têm proporcionado para nós e para nossos filhos. É um ambiente onde realmente nos sentimos acolhidas”, acrescentou.
MPGO na defesa da inclusão
Em Goiás, estima-se que cerca de 1 a 2% das crianças apresentem algum grau de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso se traduz em aproximadamente 15 a 30 mil crianças afetadas no estado.
Os desafios enfrentados por essas crianças e suas famílias incluem a dificuldade de acesso a serviços especializados, a falta de formação de profissionais na área e a necessidade de inclusão escolar adequada.
Foi diante dessas demandas que o MPGO, pautado pela defesa da justiça social e pelo seu compromisso com a promoção dos direitos humanos, firmou o acordo que possibilitou a implantação do Centro de Atendimento ao Autista em Goiatuba.
De acordo com o titular da 1ª Promotoria de Justiça de Goiatuba, promotor Pedro Henrique Barbosa, o projeto no município nasceu justamente dessa necessidade, buscando assegurar que crianças com TEA tenham acesso a um ambiente acolhedor, terapêutico e inclusivo.
“Quando assumi a titularidade da promotoria em Goiatuba, em julho do ano passado, me deparei com o número elevado de crianças neurodivergentes na comarca e a falta de atendimento especializado a elas. Conversei então com a Secretaria Municipal de Saúde e, em abril deste ano, firmamos esse acordo. É uma iniciativa essencial para promover a inclusão e oferecer suporte especializado para essas crianças e suas famílias”, salientou.
Ainda segundo o promotor, até o momento, o MPGO já destinou, por meio de acordos de não persecução penal, R$ 60 mil para auxiliar no custeio da unidade.
Ele anunciou também a ampliação do espaço nos próximos meses, com novas salas de terapia e equipamentos que permitirão aumentar a capacidade de atendimento e aprimorar os serviços prestados.
A expectativa é que o número de crianças atendidas dobre, proporcionando, assim, suporte a mais famílias do município.
“Hoje, este é o maior projeto voltado para crianças com autismo em toda a região, e estamos trabalhando para expandir os serviços. A 1ª Promotoria de Justiça de Goiatuba já destinou R$ 60 mil, por meio de acordos de não persecução penal, para a unidade, e até o início de 2025, vamos ampliar o atendimento para crianças de até 12 anos, 11 meses e 29 dias. Vejo que precisamos avançar nesse sentido, superando o preconceito, acolhendo as crianças e proporcionando a elas uma vida digna e mais saudável”, ressaltou.
Parceria do bem
Enaltecendo a relevância da iniciativa e a colaboração entre o município e a 1ª Promotoria de Justiça de Goiatuba, a coordenadora da unidade, Gisele Marques, ressaltou que a parceria firmada com o MPGO foi essencial para a consolidação do projeto, especialmente em razão do alto número de crianças com autismo no município.
“Nós tínhamos uma demanda significativa aqui em Goiatuba, e até enfrentávamos dificuldades de transporte para levar as crianças para atendimentos em Goiânia. Há muito tempo desejávamos ter um espaço especializado em nossa cidade, mas as condições financeiras eram limitadas. A promotoria reconheceu essa necessidade e se uniu a nós nesse projeto tão importante, que tem feito uma grande diferença na vida de diversas famílias da região”, pontuou.
Para ela, os resultados do trabalho realizado na unidade são notáveis, e a evolução das crianças tem acontecido de forma surpreendente. “Inauguramos o espaço em junho deste ano e, em tão pouco tempo, já notamos resultados extremamente positivos. As crianças têm apresentado melhorias significativas na socialização, interação, adaptação ao ambiente, fala e controle emocional. É gratificante testemunhar os frutos desse projeto, que está transformando a realidade das crianças e de suas famílias”, destacou.
Reconhecendo também a importância e os reflexos positivos do projeto, o prefeito de Goiatuba, Zezinho Vieira, sublinhou que o Centro de Atenção à Criança Autista tem promovido e fomentado a empatia e o respeito na comunidade goiatubense. Segundo ele, é um espaço especial onde cada criança, bem como suas famílias, são ouvidas, respeitadas e valorizadas.
“Entendemos que cada criança é única, com suas próprias habilidades, sonhos e histórias. Essa diversidade não apenas enriquece nosso espaço, mas também nos ensina a importância do respeito e da empatia. Queremos que todos se sintam acolhidos, seguros e livres para se expressar, sabendo que suas vozes são ouvidas e valorizadas. É isso que o centro tem proporcionado para as famílias da nossa cidade”, concluiu.
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