E se Deus aparecesse na TV? Com a ajuda de historiadores, filósofos e teólogos, tentamos imaginar tudo o que ocorreria se essa situação inesperada virasse realidade
Muita gente acredita que Deus e fé não se discute. Mas o que imaginamos aqui ultrapassa o limite das crenças individuais. Estamos falando de a humanidade inteira, de repente, deparar-se com um Deus em “carne e osso”, como o personagem de Morgan Freeman no filme Todo-Poderoso.
Nessa comédia hollywoodiana, o resultado da aparição divina nem sempre é animador. Na vida real, é certo que a coisa seria ainda mais complexa. Num primeiro momento, a população mundial poderia acreditar que todos os problemas iriam desaparecer com uma ordem Dele. Mas, com o tempo, essa história ganharia contornos bem mais dramáticos.
Drama divino
Governos perderiam sentido e ele seria cobrado por todos os males do mundo
1 – Para comprovar sua existência sem criar polêmicas entre as nações, o Criador convocaria uma reunião da ONU. Diplomatas, incrédulos, claro, pediriam provas. Deus, bem-humorado, faria com que os rivais representantes dos EUA e do Irã se levantassem e se beijassem. Na boca.
2 – Sede da ONU, a cidade de Nova York receberia peregrinos do mundo inteiro. Companhias aéreas e aeroportos por todo o planeta entrariam em colapso por causa da procura dos fieis. A cidade viraria um caos, com transito parado e soldados tentando conter hordas de crentes e curiosos.
3 – A histeria coletiva levaria algumas semanas, até todo mundo se acalmar e se conformar com a existência divina. A mídia encararia Deus como uma celebridade. Emissoras de TV, jornais e revistas do mundo inteiro tentariam agendar entrevistas com Ele.
4 – Entre a população haveria duas relações extremas. De um lado, doentes e miseráveis ficariam em paz, pois o Criador seria capaz de resolver tudo. Do outro lado, com medo da justiça divina, criminosos e desajustados entrariam em pânico, iniciando uma onda de suicídios.
5 – Um efeito inesperado da presença de Deus poderia ser o colapso da economia. As pessoas deixariam de trabalhar e fariam passeatas exigindo a solução imediata dos problemas mundiais: “Comida para todos!” “Saúde para todos!”
6 – As grandes questões não seriam mais decididas por governos, mas por Ele. Aborto pode ou não pode? Esse sujeito deve ir para a cadeia? E vale a pena de morte? Deus é quem daria a última palavra. Os governos se enfraqueceriam até finalmente deixarem de existir.
7 – Alguns anos depois da aparição, o ser humano poderia perder a noção do que é certo ou errado e passaria a culpar o Criador por todos os males. Deus enfrentaria crise de popularidade. Uma mãe que perdesse seu bebê, por exemplo, acusaria Deus pela desgraça.
8 – Diante de tanta confusão, Ele poderia optar por uma solução radical. Decidido a partir da Terra e voltar a seguir tudo de longe, Deus ofereceria o próprio sacrifício e “morreria” para a humanidade encontrar o rumo de novo. Mas não na cruz, que é uma coisa muito antiga.
Ciência x Religião
Com Deus presente na Terra, os dois lados perderiam força
Quem acha que a presença de Deus favorecia as religiões na milenar disputa com a ciência se engana. Na verdade, as religiões enfrentariam uma crise. Afinal, para que seguir as interpretações delas se o próprio Deus diria o que é certo e o que é errado? Grandes centros religiosos perderiam seu poder, e o Vaticano até poderia acabar sendo incorporado pela Itália.
Mas a vida dos cientistas também não seria fácil. O que havia antes do big-bang? Qual é a menor partícula dentro do átomo? Tais perguntas poderiam ser feitas diretamente ao Criador. Resultado: a ciência perderia sentido e os pesquisadores acabariam desempregados.
Polonês já “provou” que Deus existe!
Teólogo Michael Keller ficou milionário com o “feito”
Em 2008, o teólogo polonês Michael Keller ganhou um prêmio de 1,6 milhão de dólares. O feito dele? Comprovar que Deus existe! Bem, pelo menos para a Fundação Templeton, a instituição americana que pagou o prêmio e que tem cunho claramente religioso.
O polonês fez apenas um exercício de lógica. Comparando vários campos de conhecimento que ainda precisam de respostas definitivas, ele deduziu que só a mesmo a ação divina pode estar por trás dos mistérios que não deciframos. No campo da física de partículas, por exemplo, os cientistas não comprovaram quais são os elementos fundamentais do átomo. Na astronomia, ninguém sabe dizer o que havia antes do big-bang.
Quem estaria por trás de todos os segredos? Para Michael Keller, só o Todo-Poderoso explica.
Consultoria: Luiz Felipe, filósofo da PUC-SP, da FAAP e da Unifesp; Jorge Cláudio Ribeiro e Eduardo Cruz, teólogos da PUC-SP; José Luiz Goldfarb, historiador da ciência da PUC-SP.
Reprodução: Revista Mundo Estranho
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