Como assim?
Um dos maiores desafios que correspondentes internacionais que cobrem política em Brasília enfrentaram esta semana foi explicar aos editores dos veículos estrangeiros que a CPI da Petrobrás não indiciou ninguém. É que os jornalistas estrangeiros não conseguem compreender como as 700 páginas do documento não pede indiciamentos, apesar de tudo o que foi revelado pela operação Lava-Jato. O pior são as piadinhas, segundo confidenciou um colega brasileiro, que trabalha para uma agência europeia. Piadas à parte, pega mal para a imagem do país lá fora, principalmente em um momento delicado como este, da economia.
Ganhando coragem
E não é que passado o impacto da revelação das contas secretas na Suíça, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) voltou a receber demonstrações de apoio de partidos, principalmente da oposição? No entendimento das legendas que querem tirar a presidente Dilma Rousseff do cargo, Cunha merece o direito de ampla defesa e que esta defesa deve ser feita na Justiça. Na avaliação de um senador paulista, “a turma está ganhando coragem”.
Explicação da coragem
Mais do que ganhar coragem para assumir publicamente a defesa de Eduardo Cunha, os partidos têm com ele uma relação de gratidão. A explicação está nas palavras do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ). Segundo o parlamentar, com Cunha na Presidência da Câmara, os partidos ganharam voz, espaço e representatividade. O Democratas, por exemplo, vem tendo um destaque que não teria se fosse levado em conta apenas o número de parlamentares que mantém na Casa.
Democratas exigente
Depois de ganhar espaço nas reuniões de líderes e na própria Câmara, graças ao apoio de Eduardo Cunha, O Democratas estará mais exigente nas eleições de 2018 e não descarta nem a possibilidade de lançar candidatura própria ao Palácio do Planalto. A avaliação é do deputado Rodrigo Maia que comemora o fato de o DEM ter passado a se posicionar como porta-voz da oposição, depois do vácuo deixado pelo PSDB. Segundo o parlamentar, ao contrário das eleições anteriores, em que o partido sequer emplacou o vice do tucano Aécio Neves, na próxima, se não emplacar ao menos o vice com o PSDB, o partido vai de cabeça de chapa. A legenda está empolgada com o desempenho do goiano Ronaldo Caiado, no Senado, e quer apostar no nome dele. O DEM teria pesquisas que mostram que Caiado tem potencial para chegar a 12% das intenções de votos, o que daria novo oxigênio à legenda.
Ainda o Cunha
Apesar de ganhar forças na Câmara, Eduardo Cunha sofreu nova derrota no PMDB. O partido adiou para o ano que vem a reunião em que pode decidir se mantém ou não a aliança com o PT. O encontro estava previsto para o mês que vem, mas foi adiado para março, quando deverá ser realizada a convenção nacional da legenda. Foi a segunda vez que lideranças do partido mais afinadas com o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiram adiar o debate sobre um possível rompimento. O primeiro encontro havia sido marcado para agosto. O fim da aliança é uma das principais bandeiras do presidente da Câmara, desde que ele rompeu oficialmente com o palácio do planalto.
Motivo
Segundo a direção do PMDB, no lugar do congresso extraordinário, serão realizados seminários promovidos pela fundação Ulisses Guimarães. A justificativa oficial é que o partido encontra dificuldades para reunir entre quatro e cinco mil pessoas no próximo mês. Mas o vice-presidente Michel Temer e lideranças petistas mais ligadas ao governo querem ganhar tempo para convencer as alas mais resistentes da legenda a manter a aliança. O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que até pouco tempo era aliado de Eduardo Cunha, diz que o PMDB já vem se aproximando do governo e nega a intenção de ganhar mais tempo. Segundo ele o adiamento é importante, porque a convenção do partido é que tem poderes para tomar esse tipo de decisão.
Deem um jeito
Foi assim que a presidente Dilma Rousseff teria reagido e ordenado aos assessores mais diretos ao saber que o relator do Orçamento, Ricardo Barros, mandou avisar ao governo e aos líderes de partidos que vai cortar R$ 10,8 bilhões dos R$ 28 bi previstos inicialmente para o programa. Segundo o relator, o dinheiro restante dará para pagar os benefícios existentes, mas não será possível inclusão de novos beneficiários. O bolsa família será o segundo programa social a sofrer cortes por causa da crise econômica. O primeiro foi o minha casa, minha vida.
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia do CNT Jornal e apresentador da edição nacional do Jogo do Pode Notícias, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília. ([email protected])
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