Página no Facebook reúne mais de mil depoimentos de mulheres que sofreram com trombose, cegueira e até amputação de membro e todas acreditam que a causa foi a pílula
Revolucionário na década de 1960, não é novidade que o uso prolongado de pílula anticoncepcional seja danoso para o organismo feminino, mas alguns males pouco conhecidos preocupam muitas mulheres brasileiras. Entre as doenças comuns que raramente são associadas pelos médicos à pílula estão a trombose e a embolia pulmonar. Mas por que problemas sérios assim ganham pouca ou nenhuma atenção dos órgãos reguladores?
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 2011 a 2014, foram registradas 83 notificações com medicamentos compostos por rospirenona/etinilestradiol, substância que mais aparece em eventos tromboembólicos. No entanto, uma página no Facebook intitulada “Vítimas de anticoncepcionais. Unidas a favor da vida” reúne mais de 1,2 mil depoimentos de mulheres que sofrem com essas complicações.
Para a fundadora da página, a administradora de empresa Simone Vasconcelos, a situação é preocupante justamente porque os médicos não notificam os casos como é determinado pela Anvisa. “Tomamos conhecimento de muitos casos de reações adversas graves, mas eles não são notificados à Anvisa. As pessoas não sabem que elas próprias também podem notificar e que isso é importante”, afirma.
Relatos
Seguidora da página, a cabelereira Lydyany Furbino, 38, perdeu uma das pernas após sofrer trombose. Ela conta que começou a tomar o anticoncepcional com 16 anos e a fumar aos 17. “O médico nunca me perguntou se eu fumava ou se tinha histórico familiar de trombose e hipertensão. Minha mãe é hipertensa”, afirma. Lydyany ainda compartilha que está afastada do trabalho, toma antidepressivo e dependerá de anticoagulantes para o resto da vida.
Já a educadora física Gisele Meoli, 26, relata que desenvolveu trombose na perna esquerda mesmo sem nunca ter fumado ou apresentado histórico da doença na família. Para ela, tudo por causa do contraceptivo que usou por três meses aos 24 anos. Depois de seis meses de tratamento, Gisele hoje está curada. Porém, a educadora recebeu orientações médicas para nunca mais usar hormônios.
Ações
De acordo com a presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Marta Finotti, é preciso analisar esses casos com cautela. “Ao envelhecer, o risco da mulher ter trombose aumenta. Mulheres obesas, sedentárias e diabéticas, que fumam ou costumam fazer viagens prolongadas também têm esse risco aumentado”, explica. E acrescenta que o ginecologista precisa do histórico pessoal e familiar da paciente para, assim, indicar o melhor método contraceptivo.
Enquanto isso, os membros da página “Vítimas de anticoncepcionais” querem principalmente que a Anvisa tenha a verdadeira dimensão do número de casos semelhantes ocorridos no Brasil para auxiliar pesquisas sobre o assunto. “Nosso projeto é ambicioso, mas estamos caminhando rumo à criação da Lei dos Anticoncepcionais. E, para que isso seja possível, precisamos de dados confiáveis”, diz a organizadora da página.
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