Bonde do Cunha
As viagens de comitivas lideradas pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao exterior, já vêm sendo chamadas, por parlamentares e servidores da Casa, de bonde do Cunha. É que em plena era de austeridade fiscal, o presidente e os demais parlamentares só embarcam de classe executiva. Tudo pago com dinheiro público, evidentemente. A mais recente “excursão” do parlamentar, mais oito colegas, foi a Nova Iorque, onde participaram da Conferência da União Interparlamentar. Só em passagens, foram cerca de R$ 200 mil. Cada passagem custou R$ 17 mil em média.
Moralidade
Antes dos Estados Unidos, Cunha e colegas estiveram em Israel, Palestina e Rússia. Foram mais R$ 347 mil só com passagens aéreas, só nesta viagem. No caso da viagem aos Estados Unidos, houve quem levasse a esposa junto. Quem o fez jura de pés juntos que bancou a passagem com recursos próprios. Nada ilegal, mas a moralidade é questionável. A ida de cônjuge, no mínimo, indica que no roteiro estava previsto algum passeio familiar.
E tem mais
Mas a gastança da Câmara não para por aí. Cada sessão noturna realizada do início do ano até agora custou R$ 1 milhão aos cofres públicos. O dinheiro foi usado para pagar horas extras aos servidores e despesas como cafezinhos, lanches….
Chamada na responsabilidade
Foi vendida como uma reunião amigável, mas um parlamentar com trânsito livre no Palácio do Planalto garantiu a este colunista que a reunião entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no início da semana, foi dura. No primeiro encontro entre os dois, desde que Cunha anunciou oposição ao governo, Dilma Rousseff fez mais que pedir apoio do parlamentar para evitar a aprovação de projetos que aumentem gastos públicos. No encontro, ela teria lembrado a Cunha da responsabilidade que o cargo de presidente da Câmara impõe e dos riscos de aumentarem o desgaste dele, tanto junto ao Judiciário quanto junto à população.
Recado dado
A opção do governo de pela primeira vez na história enviar ao Congresso o Orçamento da União com previsão de déficit foi um recado aos parlamentares. A estratégia do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apoiada pela presidente Dilma Rousseff, foi deixar claro para os parlamentares que eles serão responsabilizados por quaisquer despesas extras que porventura possam ser inseridas no documento, enquanto ele estiver em tramitação. É que depois das despesas criadas durante discussão das medidas de ajuste fiscal, Levy ficou escolado e convenceu a presidente a expor o risco e transferir o possível desgaste ao Congresso.
Conversores grátis
Os cortes no Orçamento da União para o ano que vem não vão afetar o calendário de implantação da TV Digital no Brasil, segundo garantiu o secretário nacional de Comunicação Eletrônica do ministério das Comunicações, José Emiliano Silva Filho. Segundo ele, o governo já reservou inclusive o dinheiro para fornecer os conversores de sinal, para os beneficiárias do Bolsa-Família que não tiverem condições de comprar uma TV nova. Com o equipamento, a TV analógica receberá o sinal digital normalmente.
Então…
Até aliados próximos, muito próximos, aliás, da presidente Dilma Rousseff ficaram surpresos com a declaração dela de que não gosta da CPMF, mas que não afasta a possibilidade de o governo precisar de novas fontes de receita. Soou como aviso de que ela não desistiu, apenas adiou o projeto defendido pelo ministro da fazenda, Joaquim Levy. E por falar em Levy, um crítico do ministro disse que no Governo ele vem sendo apontado como sucessor fiel de Guido Mantega, que teve longevidade no cargo graças à imensa capacidade de dizer “sim” à presidente. Uma das mostras disso foi o fato de a presidente sair em defesa do ministro e negar o desgaste dele no governo. Mas Levy tem reclamado de falta de espaço e de prestígio.
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia do CNT Jornal e apresentador da edição nacional do Jogo do Pode Notícias, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília ([email protected])
Discussão sobre isso post