Bicho-papão virou azarão no futebol
O drama terminou nos minutos finais do domingo. Muito já foi dito e escrito sobre a vexatória eliminação do Brasil diante do Peru (1 a 0) na Copa América Centenário. Mas ainda falta, a meu ver, uma análise fria sobre a raiz do problema: a ausência de personalidade, em geral, do técnico e do jogador brasileiro. Ao primeiro sinal de adversidade, os profissionais da bola abaixam a cabeça ou permanecem estáticos, sem acreditar no resultado desfavorável. Os semblantes perdidos de Felipão, em 2014, e de Dunga, nos EUA, resumem o quanto padecemos de líderes natos.
Brasileiro não perde a pose
Os treinadores não entram em ação quando são mais necessários, assim como os cobiçados e milionários atletas. Levar um gol faz parte do ritual de quem entra em campo. Há dois anos, a seleção tomou 1, 2, 3, 4, 5 da Alemanha em poucos minutos e ninguém fez nada para travar a partida. Bastaria uma contusão simulada pelo experiente goleiro Júlio César, algo que os vizinhos uruguaios e argentinos fazem com maestria. Quanto à derrota para o Peru, não se viu o clima de tudo ou nada, o famoso abafa no adversário. O jogador brasileiro ainda se considera melhor do que os demais, por isso não perde a pose.
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Peneira de vaidades
Foi-se o tempo em que a qualidade técnica individual fazia a diferença. O coletivo do Brasil hoje mais parece uma peneira, tamanha a quantidade de brechas. Não há esquema tático definido e variações de acordo com o momento da partida. Sem líderes respeitados em campo, como escolher um capitão? Neymar tem preguiça da seleção, prefere o mundo das celebridades. Daniel Alves e Miranda estão muito aquém do necessário. Elias dá o recado antes do jogo, mas depois some em campo. Willian e Gabriel não disfarçam a má vontade recíproca. Cada um dos jogadores da seleção vive o seu mundo e dane-se “a amarelinha” de Zagallo.
Título em amistoso
O jornal Gazzetta dello Sport sacramentou: “Brasil não existe mais”. O periódico italiano está certo e errado ao mesmo tempo. Goleada de 7 a 1, ou placar próximo, só mesmo contra o Haiti ou em casos excepcionais, com a contribuição da equipe adversária. A seleção de qualquer treinador que venha substituir o esforçado Dunga (ou alguém ainda duvida que sua demissão é questão de tempo?) será obrigada a comemorar 1 a 0 em amistoso como se fosse conquista de título mundial. E também disputar qualquer competição oficial na condição de zebra.
Chega de fantasia
É isso mesmo. O Brasil regrediu de bicho-papão para azarão no futebol. Ou aceita a nova realidade ou vai continuar experimentando vexames. E a crônica esportiva, especialmente a Rede Globo, precisa parar de exigir os resultados que a seleção não tem condições de entregar. Atual campeã mundial, a Alemanha ressurgiu das cinzas. O Brasil tem jeito, desde que a autocrítica prevaleça.
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