Coletivo de erros e frustrações
O pior ainda está por vir no sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia. Essa é a conclusão de quem ouviu as justificativas de Décio Caetano, presidente do Sindicato das Empresas do Transporte Coletivo, para o reajuste de 40 centavos na tarifa – de R$ 3,30 para R$ 3,70 a partir do próximo sábado. Ele admite que o aumento é insuficiente para equilibrar as contas, descarta qualquer investimento em melhorias e pede socorro ao poder público. Em linhas gerais: o péssimo serviço oferecido aos milhares de usuários pode se transformar em calamidade pública a médio prazo.
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Déficit e descaso
A conta simplesmente não fecha. O número de viagens cai ano a ano – de 2014 para 2015 foi de 9% – em função da redução e da péssima manutenção da frota. Sem recursos suficientes para investir no sistema, de acordo com os argumentos privados, os empresários apontam o pires em direção aos gestores públicos. Estes, como não é difícil constatar, mal dão conta de assegurar os serviços básicos ao cidadão. No jogo de empurra-empurra só resta ao usuário gritar e se manifestar contra o déficit de 300 a 350 ônibus nas linhas e o descaso pela continuidade da “operação férias” em pleno mês de fevereiro.
Cobrança por qualidade
As ouvidorias do sindicato das empresas e da Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC), por incrível que pareça, não estão abarrotadas de reclamações questionando o valor do reajuste, mas sim cobrando frequência nas linhas e conservação dos ônibus. O usuário é bem informado e já sabia que o aumento estava a caminho, seguindo a tendência de outras capitais, portanto não houve motivo para surpresa. Como também não haverá espanto se a frustração dos usuários for novamente direcionada para atos de vandalismo contra a frota. Cada um utiliza as armas que tem.
Passado não voltará?
Traduzindo em miúdos, o sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Goiânia está recuando, a passos largos, ao quadro caótico da gestão Pedro Wilson (2001 a 2004). Naquela oportunidade os ônibus, também em quantidade reduzida, circulavam sem para-brisas, assentos quebrados e pneus em estado deplorável. A aquisição de 100 veículos semi-usados era motivo de festa.
Esperança e dignidade
Com a promessa de “consertar o transporte coletivo em seis meses”, o ex-prefeito Iris Rezende chegou a promover mudanças significativas no setor, entretanto perdeu o controle, logo após a reeleição (2008), porque só tinha olhos para o Palácio das Esmeraldas. O seu sucessor, Paulo Garcia, não dispõe de força política – e muito menos disposição administrativa – para bater a mão na mesa e exigir investimentos.
Como a esperança é a última que morre, mesmo no transporte coletivo, o usuário ainda sonha acordado com avanços que lhe assegurem o mínimo de conforto e dignidade no deslocamento por Goiânia e municípios vizinhos.
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