Collor, Dilma e o martírio de Temer
A futura ex-presidente Dilma Rousseff talvez não tenha acompanhado o discurso do senador Fernando Collor porque esvaziava as gavetas do Palácio do Planalto naquele momento. Ou preferiu não assistir para evitar identificações entre o passado e o presente. Mas as digitais da vitimização estavam lá, profundas e gritantes, 24 anos depois. O ex-presidente Collor vai morrer dizendo que foi vítima de um golpe, assim como Dilma. A arrogância de ambos vem do berço e os impede de enxergar o fiasco político-administrativo em que se transformaram ao comandar o país. A saída pela porta lateral diz tudo.
Ironia do isolamento
Se Dilma não prestou atenção no discurso de Collor, a esperança é que Michel Temer tenha feito anotações antes de comemorar a larga vitória pelo impeachment da então presidente por 33 votos de diferença – 55 a 22. O ex-caçador de marajás disse que o Brasil atingiu o ápice de todas as crises e que “tentou avisar” Dilma do flagrante risco de impeachment que ela corria. Absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dos processos que resultaram na sua cassação em 1992, Collor sinalizou voto pelo afastamento de Dilma. Justificativa irônica: isolamento da presidente, o mesmo pecado original cometido pelo alagoano.
Inabilidade pessoal
Que bom seria se o apoio a projetos importantes para o país fosse meramente espontâneo e ideológico, mas essa realidade é utópica não apenas na conjuntura política brasileira, mas mundial. Fernando Collor fez pesadas críticas ao “presidencialismo de resultados”, porém não admitiu a sua inabilidade pessoal, copiada por Dilma, para dialogar com parlamentares e acatar sugestões dos mais variados segmentos da sociedade civil. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, cada qual ao seu modo, cumpriram o script da governabilidade e por isso foram bem avaliados. Não existe outra saída.
Governo da desconfiança
Alçado ao mesmo posto ocupado pelo falecido Itamar Franco no passado, Michel Temer tem maturidade política suficiente para não repetir erros de Collor e Dilma. Sabe que seu governo-tampão carrega a marca da desconfiança de 80% da população brasileira e que não será nada fácil aprovar pacote com ajustes econômicos. O marido de Marcela, nova primeira-dama do país, terá entre 60 a 90 dias para construir um novo ambiente administrativo em Brasília. Isso com o PT no seu calcanhar, de volta à oposição. O martírio de Temer está apenas começando.
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