Na última segunda-feira (22), a estreia do maior seriado de toda a história da televisão norte-americana e mundial completou dez anos. Já me explico.
A data era 22 de setembro de 2004. Mais de 18 milhões de pessoas sintonizaram as TVs no canal ABC para assistir ao piloto das suas vidas. Um episódio duplo que retratou, com maestria dramática e técnica, a queda do voo 815 da Oceanic Airlines numa misteriosa ilha. Essas duas horas de deleite televisivo custaram quase R$ 33 milhões. Bem gastos até a fração de centavo.
Uma produção encabeçada por J.J. Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse, “Lost” foi um marco na maneira de se produzir conteúdo audiovisual. Seja na narrativa pouco linear ou no universo expandido, o seriado estabeleceu novos parâmetros para crítica e audiência ao redor do globo.
Pode parecer batida a história de um grupo de pessoas que sobrevivem, milagrosamente, à queda de um avião comercial numa ilha isolada de qualquer civilização. Pode soar piegas o conto de um velho paraplégico que volta a andar sem nenhuma razão aparente. Ou ainda cansativa a mesma conversa da bonita mocinha (com um quê sedutor de mistério) que se envolve num triângulo amoroso com dois galãs diametralmente opostos, o bonzinho e o bad boy. Mas a verdade é que não há nada igual a “Lost” em toda a vasta produção cultural humana.
A série, findada seis anos depois, tinha uma estrutura perfeita e, apesar da quantidade de dinheiro arriscada, tinha tudo para ser uma boa aposta. Os fãs de drama sempre estiveram satisfeitos com a profundidade, coerência e elegância das relações estabelecidas entre os personagens. Quem gosta de ação nunca vai se esquecer das jornadas do grupo mata adentro. E os fãs de suspense foram contemplados com as eletrizantes aparições iniciais de Jacob.
Para falar da grandeza de “Lost”, podemos citar a estrutura, que lançava mão de flashbacks, flashfowards e até flashsideways para contar as histórias do grupo central de personagens. Essa narrativa flexível, mas sempre bem amarrada, é uma das heranças deixadas para a TV e até para o cinema contemporâneo.
O final é questionável, divide opiniões. Mas é coerente com tudo o que se viu antes. O que soaria errado seria um “series finale” que respondesse tudo sem deixar nada para instigar a curiosidade e promover o debate.
Mas só quem viveu a série durante as exibições inéditas dos episódios pode dizer realmente o que foi tudo aquilo. As teorias debatidas em fóruns da internet, as vigílias nas maiores comunidades do Orkut à espera do novo episódio e até a simples conversa entre os fãs: nós podemos dizer que vivemos “Lost”.
Para sempre nos lembraremos dos nossos “inimigos” Charles Widmore, Ben Linus e da Black Smoke. As belas trilhas sonoras, os momentos de alegria e as perdas, a ilha não vai sair de nós. Para sempre contaremos com os nossos amigos Hurley, Jack, Locke, Charlie, Sawyer, Kate, Desmond, Sayid, Jin, Sun.
Mais do que um seriado, há dez anos se iniciava a experiência de “Lost”.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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