Foram cerca de dez dias até o grito soar forte. Os moradores do Bueno e Nova Suíça já o conhecem bem, afinal são 17 anos vendendo pamonhas na região.
Com o grito incomparável de “olha a pamonha”, anunciando a sua chegada, o pamonheiro Jorcelin José da Silva, conquistou a freguesia na região. Mas o inconfundível berro, segundo ele, começou baixinho até ser ouvido a metros de distância.
A história do pamonheiro de 69 anos começou na década de 90, quando ele possuía um bar que acabou falindo após inúmeras vendas que não foram pagas e a falta de administração. Com muitas dívidas a saldar, Jorcelin precisava encontrar novo emprego.
Vergonha
Foi então que um amigo, que na época já vendia pamonhas, lhe sugeriu que também começasse a vendê-las. “Eu não tinha alternativa e precisava começar a trabalhar o mais rápido possível, pois eu tinha esposa e estava com quatro filhos pequenos. No começo, fiquei com pouco de receio e também com vergonha de sair gritando e oferecendo, mas, mesmo assim, acompanhei este meu amigo por uns três dias, até conseguir gritar de verdade”, lembra dando risadas o pamonheiro.
Bicicletinha
A partir daí, todos os dias a rotina era a mesma: em casa, ele e a mulher fabricavam as pamonhas e à tardezinha ele saía para vendê-las com duas caixas em uma bicicleta. O trajeto era pesado – de 15 a 20 quilômetros por dia. Jorcelin conta que saía por volta das 15 horas e só retornava para casa após às 20 horas: “Faça sol ou chuva eu saía com a minha bicicletinha. Não foi fácil, ainda mais em uma época em que a pamonha custava apenas 50 centavos. Muita gente não me apoiou, muitas pessoas jogavam ovo e até pedra de gelo quando eu passava gritando, mas nunca desisti. Hoje, consegui arrumar minha casa e criar meus filhos vendendo pamonhas”, afirma Jorcelin.
500 pamonhas
Depois de todo esse tempo, a rotina atualmente é outra. Ele já não sai mais todos os dias para vender e não fabrica a mesma quantidade de pamonhas. No auge, conta Jorcelin, eram preparadas por dia cerca de 500 pamonhas. Hoje, a venda é de 80 a 100 pamonhas diárias. “O tempo passa e a gente diminui o pique, mas parar mesmo não consigo, porque já tenho carinho pelos meus clientes e não conseguiria ficara parado”, diz o pamonheiro, que já até pensou em abrir uma pamonharia, mas desistiu por achar que não iria conseguir administrar bem o negócio.
Mas a venda de pamonhas não parou por aí. Com a ajuda da mulher e de um filho, o negócio se expandiu e, na própria casa da família, eles pensam em iniciar a venda de frangos assados. Além disso, as pamonhas agora também são entregues em domicílio e, à noite, o filho toma conta de um espetinho montado na porta da residência.
Patrimônio
“Se eu chegar até lá, no ano que vem eu faço 18 anos vendendo pamonha. E seu Deus permitir eu consigo chegar. Os moradores do Bueno e Nova Suíça falam que eu já sou patrimônio da região. Mas hoje o ritmo diminuiu, até porque agora estou com um problema de vista, mas parar mesmo só se a saúde não me permitir mais”, declara o pamonheiro.
Carolina Simiema
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