Opinião / Brunna Duarte
Jornalista, pós-graduanda em Comunicação e Marketing. Aspirante a poetisa
Há muitos dias, ensaio uma forma de iniciar esse artigo. Há muitos dias, tento encontrar uma forma de expressar as diversas reações que determinada ação do Supremo Tribunal Federal (STF) provocaram em mim. Que papel assumir diante do impensável, do absurdo? Que dizer diante de tamanho retrocesso? Tanta reflexão se choca diante do lamentável fato: no Brasil, não há obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão.
Ainda estão bem claras em minha memória as noites mal dormidas, o cansaço, a alegria da superação, as amizades feitas, o encanto da troca de ideias com professores. A faculdade para mim abriu as portas para um mundo novo, de aprendizado, de crescimento pessoal, de descoberta de novos talentos. A faculdade para mim se tornou a realização de um sonho antigo, moldado ainda na adolescência, nas redações escolares. Na faculdade, aprendi o real significado de ser profissional; de se comprometer com uma atividade, estudando-a, desenvolvendo-a, apaixonando-se diariamente por cada detalhe, contribuindo.
Foi também na faculdade que tive a oportunidade de participar de eventos que me colocaram junto aos verdadeiros profissionais do jornalismo. Profissionais que se empenham pelas condições de trabalho dos jornalistas, que se preocupam com a qualidade de ensino do jornalismo, que têm consciência da dimensão dos estragos que podem ser causados pelo jornalismo nas mãos de pessoas descomprometidas e despreparadas.
Eu, que participei ativamente de eventos, manifestações e movimentações diversas da campanha em defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo; tive que me contentar com as piadas após a infeliz decisão do presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes. O aparente desconhecimento revelado na votação do Supremo se mostrou para mim como uma vergonhosa falta de respeito à categoria e à sociedade como um todo.
Não é preciso ser especialista para saber que a educação é o melhor caminho para o desenvolvimento de qualquer sociedade. Estimular o conhecimento é libertar, é curar, é oferecer condições de igualdade. O jornalismo, ainda que com muitas exceções, sempre se propôs como um instrumento de democracia. Democracia esta que se inviabiliza a partir do momento em que a formação é desvalorizada.
Ainda que as habilidades necessárias para o exercício do jornalismo não sejam exclusivamente aprendidas na faculdade, exigir o diploma é mostrar o caminho correto para quem deseja seguir qualquer profissão. A consciência da responsabilidade no exercício de uma função, seja ela qual for, se demonstra em primeira instância na busca por aprendizado.
Sob o pretexto de defender a liberdade de expressão, o STF calou a voz de milhares de jornalistas, professores e estudantes de jornalismo. Por um instante, a perplexidade tomou conta de todos. Por um instante, ficamos confusos e preocupados.
No entanto, cozinheiros ou jornalistas, os verdadeiros profissionais sabem a importância do conhecimento e do amor à profissão. “Receita” esta que os ministros parecem não conhecer. Além do mais, não teria escolhido o jornalismo como profissão, se não tivesse esperança que esse país ainda tem jeito e que o bom senso há de prevalecer. Sou sim a favor do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, porque respeito os profissionais, estudantes e professores de jornalismo; e por que nenhuma decisão do STF pode mudar o compromisso que os verdadeiros jornalistas têm com a sociedade.
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