Ano de 2013 deve entrar para a história como o mais violento da capital, superando 2012, que já ostentava esse título. Secretário de Segurança, Joaquim Mesquita, faz questão de argumentar que o aumento da violência na capital está dentro do índice esperado. Não é, de fato, o que o cidadão espera
A máxima assimilada pelo morador da capital de que Goiânia é uma grande metrópole, mas com “tranquilidade de interior”, infelizmente, ao que parece, não pode mais ser repetida com propriedade. O jeito calmo de levar o dia a dia aqui, cada vez mais, tem sido sufocado pela insegurança, pela criminalidade e, sobretudo, pela ausência de ações efetivas de Segurança Pública que garantam ao goianiense o estilo de vida com o qual, em um tempo não muito longínquo, ele esteve acostumado.
É preciso dizer que essa constatação do Jornal Folha Z é baseada não apenas na sensação de insegurança do cidadão da capital, mas em números oficiais, divulgados pelo próprio governo estadual e que comprovam a ineficiência das ações adotadas. Ainda assim, o secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, delegado federal que desagradou as forças de segurança locais ao assumir o cargo, faz questão de argumentar que o aumento da violência na capital está dentro do índice esperado. Não é, de fato, o que o cidadão espera.
Para se ter uma ideia, de janeiro a novembro desse ano, foram registrados, só na capital, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), 528 assassinatos. Novembro foi o mês mais violento do ano, com 59 assassinatos, 11 a mais que outubro. No ano passado inteiro, foram 547 mortes dessa forma, segundo a SSP. Ou seja, seguindo o mesmo padrão, 2013 deve ser o ano mais violento da história da capital, superando 2012, que já havia entrado, infelizmente, para a história.
Os números podem ser ainda maiores, se contabilizadas as mortes em confrontos com a polícia. Para Joaquim Mesquita, que aposta na criação de Áreas Integradas de Segurança, que ainda não foram capazes de reduzir os números, o crescimento é natural. “É o padrão universal de dados e tem uma variação (crescimento) de 3% com relação ao mesmo período”. Para o auxiliar do governo, são números, mas, na sociedade, são 3% de vidas ceifadas da população.
Greve
Para agravar a situação, durante a greve da Polícia Civil goiana e até o fechamento desta reportagem, mais de 67 mil crimes deixaram de ter ocorrência registrada e outros 70 mil inquéritos ficaram parados. Ou seja, além de não coibir o crime, que tem crescido no Estado, não há condições para investigá-lo. São milhares de cidadãos goianienses, que pagam seus impostos e tiveram seu patrimônio roubado, foram vítimas de violência ou perderam seus entes, sem ter a quem recorrer.
Os policiais reivindicam piso salarial, bônus por produtividade e reestruturação da carreira e chegaram a ocupar, por 13 dias, a Assembleia Legislativa do Estado.
O governo fez questão de endurecer a negociação com os servidores, fazendo desta a mais longa greve registrada na história da Polícia Civil. E, mais longa que a paralisação, é a agonia do goianiense, encarcerado em sua casa, refém da insegurança e da falta de políticas públicas que lhe garantam a possibilidade de viver na Goiânia de outrora.
Ações sem efeito
Enquanto a violência avança, as ações tomadas pela cúpula da Segurança Pública Estadual não caminham no mesmo ritmo e não conseguiram contribuir para uma melhora nos índices. Embora o secretário Joaquim Mesquita aposte na tática de definir o aumento da criminalidade como um problema nacional, estados como São Paulo, o maior do país, conseguiram uma melhora nos índices, com queda nos números de homicídios por sete meses seguidos.
A criação das Áreas Integradas de Segurança Pública, com o objetivo de regionalizar o combate ao crime, ainda não surtiu o efeito esperado, como mostram os números. Outra medida paliativa, a contratação de reservistas do Exército para atuar na Polícia Militar já foi, inclusive, questionada pelo Ministério Público Estadual, que discorda da atuação dos agentes em ações ostensivas e do uso de armas de fogo.
Esse é o entendimento da promotora Leila Maria de Oliveira: “Se eles ferem alguém com uma arma de fogo ou são feridos, eles não têm as garantias constitucionais do concurso público. Pode haver voluntário na PM, mas somente para os serviços internos e administrativos”.
A esperança da população é que essa, ou outras medidas, surtam algum efeito, antes que não seja possível mais ao goianiense o prazer de viver em uma metrópole com “tranquilidade de interior” e essa seja apenas uma lembrança que repassaremos aos nossos filhos e netos, de uma cidade que já foi segura.
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