Mais recente empreitada na ficção científica do britânico Channel 4, “Humans” alia a literatura de robótica norte-americana com a elegância e técnica inglesas. A trama corre num mundo em que o avanço tecnológico chegou ao ponto de produzir androides idênticos à fisionomia humana. Comercializados tanto como funcionários domésticos ou agricultores e operários, os synths são máquinas perfeitas. Mas o que será que Asimov diria disso?
Inteligência artificial
O plot principal da história se apresenta com o surgimento de uma nova geração de androides, um pequeno grupo de robôs dotados de real inteligência (livre raciocínio, criatividade, emoção). O interessante é que essa evolução foi alcançada pelos esforços individuais de um matemático, cuja descoberta ainda não foi nem reconhecida e muito menos assimilada pela grande indústria: inteligência artificial é um mito para a sociedade.
A trama deve se desenvolver ao redor deste grupo de robôs, que têm contato entre si, mas foram contrabandeados e agora se fingem de meras máquinas para não serem pegos. Aqui, as leis da robótica são eficazmente aplicadas e todo o funcionamento do sistema soa coeso, da comercialização aos robôs cuidadores de idosos financiados pelo governo.
Por tudo isso, universo da série é bem fidedigno, não há nada de extrapolado. Imagine que o preço de um synth equivalha ao valor um novo modelo de iPhone assim que chega ao mercado brasileiro. Caríssimo, mas minimamente acessível para o trabalhador assalariado médio capaz de obter crédito para financiamento.
“Blade Runner”
As discussões propostas por “Humans” são muito semelhantes às contidas em “Do androids dream of electric sheep?”, do fantástico K. Dick, ou na sua adaptação ao cinema “Blade Runner”. Mesmo que num sejam máquinas elétricas e noutro, réplicas do corpo humano orgânico, a oposição entre criador e criatura é o que predomina. O que diferencia a consciência humana de outra capaz de pensar?
Outra reflexão interessante que brota da série é a do trabalho. Quando toda a atividade manual puder ser substituída pela mão de obra robótica sem prejuízo algum e até mesmo ganho da produtividade, assistiremos à abolição das classes sociais? E mais: este seria um progresso tecnológico muito distante na nossa cronologia?
Todas discussões interessantes. Mas de conclusão há só a de que “Humans” é a melhor estreia dessa Summer Season e vale a pena conferir.
PS. Dado importante e relegado ao fim da página: o seriado é um remake de outra produção sueca de 2012, “Real Humans”.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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