Por Marco Faleiro e Thiago Araújo
Segunda-feira, 05h30 da manhã. O celular do jovem Thiago Gonçalves desperta e ele acorda. Por um instante, antes mesmo de se levantar e organizar as coisas para o trabalho, ele pensa: “os tempos agora são outros”. Se antes a falta de perspectiva batia à porta, hoje ele acorda entusiasmado para a rotina de trabalho em uma indústria de confecção localizada no Polo Industrial de Aparecida de Goiânia.
Do outro lado da Grande Goiânia e poucos minutos depois, por volta das 6h, a gerente de produção Ana Cláudia Barros também começa a se arrumar para mais um dia de trabalho. Há quatro anos, ela atua em uma empresa da capital supervisionando o corte, a costura, a modelagem e a expedição de roupas masculinas. As peças que são avaliadas por seu olhar atento e preciso chegam a consumidores de todos os Estados brasileiros.
Assim como ela e o jovem Thiago, outros milhares de trabalhadores goianos encontraram no setor da moda novas oportunidades e espaço para desenvolverem suas capacidades. Dados do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas em Geral de Goiânia (Sindroupas) apontam que a Região da Rua 44, um dos maiores polos de confecção do país, emprega mais de 160 mil pessoas. O segmento é responsável ainda por manter mais de 3,5 mil indústrias têxteis e de acessórios de portas abertas em Goiás.
E são nessas empresas que os dois personagens que abrem essa reportagem trabalham. Apesar de não se conhecerem, as histórias deles se esbarram em diversos momentos. Ambos, inclusive, foram beneficiados com as formações e treinamentos de qualificação profissional oferecidos pelo Sistema da Federação das Indústrias de Goiás (FIEG) Sesi/Senai.
Ana Cláudia, por exemplo, teve acesso às plataformas educacionais do Senai Goiás no ano de 2005. No mercado desde o final de 2003 e sem experiências anteriores, os dois primeiros anos de atuação no setor foram de grandes desafios. A sua relação com o segmento só melhorou depois que ela, por indicação de uma amiga, conheceu o curso Técnico de Vestuário disponibilizado pelo Senai.
“Essa oportunidade foi muito importante na minha trajetória profissional. Em dois anos, conheci todas as fases operacionais de uma confecção. Além disso, aprendi sobre os custos e a precificação dos produtos e fui motivada a empreender. Depois disso, o mercado me recebeu melhor, sobretudo porque durante a formação tive a chance de visitar outras indústrias, participar de workshops e de ampliar minha rede de contatos”, comemora.
No caso do jovem Thiago Gonçalves, ele conta que teve acesso ao núcleo de qualificação da instituição em 2019. Na época, ele era reeducando do sistema prisional e teve a oportunidade de integrar um projeto social do Grupo Sallo, em parceria com o Senai Goiás, que oferece há 5 anos cursos de costura industrial no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
“Me lembro exatamente da data em que comecei o curso: foi no dia 17 de julho de 2019. Quando fui chamado pela Sallo para participar da formação não tinha noção do que era uma máquina de costura e foi essa experiência que mudou totalmente a minha história. Eu já pensava em viver algo novo, mas foi depois desse curso e de 300 horas de aulas que um leque de possibilidades se abriu”, pontua o jovem que, meses depois, ao voltar para o convívio social, já tinha a carteira assinada pela empresa, cumpria uma nova carga horária de trabalho e vivia novos propósitos.
Capacitação e fortalecimento da indústria goiana
Mais do que certificar profissionais para o mercado, as formações e cursos do Senai fortalecem a indústria goiana e promovem o desenvolvimento social dos municípios. É o que afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel. “O trabalho promovido pelo Senai tem um papel fundamental no crescimento do emprego em Goiás. Por isso, estamos em todas as regiões do Estado, interiorizamos as ações e oferecemos cursos gratuitos em diversas cidades”, explica.
Somente neste ano, a instituição realizou mais de 91 mil matrículas para formações técnicas. Incentivada por essa rede de apoio e pela retomada da economia após os desafios impostos pela pandemia, a indústria goiana — do ramo da moda a outros segmentos — registrou no primeiro semestre de 2021 um saldo positivo de 21.700 novos postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A educação profissional, de acordo com dados da própria Fieg, contribui para a inserção no mercado e mostra que 80% das pessoas que passam pelos programas de qualificação conseguem vagas nas indústrias. No setor da moda, o cenário é ainda mais otimista, é o que assegura o empreendedor e presidente do Sindroupas, Edilson Borges. “Toda a cadeia produtiva da indústria de confecção do Estado precisa de profissionais habilitados e a contratação costuma ser imediata quando o trabalhador tem conhecimento técnico”.
Edilson Borges pontua ainda que o segmento, apesar da falta de apoio público, está em plena expansão e que esse resultado se deve a essa rede de apoio que reúne entidades, organizações e empresários em torno da qualificação profissional de trabalhadores. “Onde tem indústria de confecção em Goiás tem também a digital da Fieg e de empresários dispostos a superar dificuldades diariamente. Essa característica foi imprescindível para que o nosso Estado tivesse condições de ocupar, hoje, espaço entre os três maiores polos atacadistas do Brasil”, acrescenta.
Além da profissionalização, o setor da moda e toda a sua cadeia produtiva contam com ações coordenadas pela Fieg e por sindicatos que vão desde o desenvolvimento do Selo da Moda Goiana até a promoção de eventos e ações para intensificar o turismo de negócios. “Estamos conjugando esforços para que o segmento de moda esteja sempre crescendo em Goiás, com qualificação e o desenvolvimento de ações tecnológicas para atender a demanda do setor”, destaca o presidente da Fieg.
Oportunidades que transformam
Diante de todos esses esforços, o segmento — com todos seus números, projeções e resultados conquistados ao longo das últimas décadas — promove a transformação social de trabalhadores e de suas famílias nos quatro cantos de Goiás. Por isso, não importa se as pessoas tiveram acesso ao conhecimento técnico em Goiânia, Catalão, Jaraguá ou em galpões situados dentro do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, o que é realmente significativo é que elas se tornaram protagonistas de suas próprias narrativas e abriram novas portas.
Com um diploma do Senai em mãos, Ana Claúdia diz que se sente uma campeã e faz questão de celebrar a oportunidade de formação que teve em 2005 e de reforçar para a sua equipe de trabalho na Trotter Confecção a importância da qualificação e aperfeiçoamento profissional.
“Não há muitos caminhos sem preparação técnica. Na indústria em que trabalho, produzimos jaquetas, camisetas, calças jeans, bonés e uma série de acessórios masculinos que demandam mão de obra especializada e eu sempre repito que as melhores posições serão ocupadas por profissionais habilitados”, ressalta.
Thiago Gonçalves também celebra a oportunidade de trabalho e a formação técnica que recebeu quando os dias ainda eram de incertezas. “Hoje eu tenho uma profissão, levanto cedo com muito mais disposição, trabalho produzindo camisas e outras peças e manuseio máquinas de costura overloque, filigrana e caseado. Já pensou?! Há três anos eu diria que isso não seria possível “, finaliza o jovem.
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