Chico Caruso é um dos mais celebrados e inteligentes chargistas do Brasil, e isso é inquestionável. Por mais que muita gente ache suas charges sem graça.
Há bem pouco tempo, chargistas do jornal satírico francês Charlie Hebdo, foram vítimas da crueldade de extremistas religiosos que assassinaram, a sangue frio, 12 pessoas, na sede do jornal.
E já faz algum tempo que o grupo extremista Estado Islâmico têm feito vítimas com um grau de crueldade poucas vezes visto na última metade do século XX e início do século XXI.
E ontem, 08 de março, foi Dia Internacional da Mulher.
O que os 4 primeiros paragrafos têm haver um com o outro?
Caruso, Hebdo, Estado islâmico e Mulheres? Bastante coisa.
A charge publicada no jornal O Globo repercutiu de forma intensa, nela, a presidente Dilma é retratada refém de um membro do EI, empunhando uma adaga.
Quando o EI publica um vídeo como o da charge, todos sabem o fim da história: alguém morre degolado.
É direito do chargista desenhar uma imagem polêmica, evocando a liberdade de expressão? Sim, claro, é de direito.
É de dever do chargista avaliar o conteúdo do que desenha para não fazer apologias sobre ações que venham a ser danosas à sociedade, sabendo ele do alcance de sua publicação? Sim, é dever.
liberdade de expressão
Quando as 12 pessoas do Charlie Hebdo foram mortas, em um primeiro momento, houve de nossa parte, uma defesa intransigente da liberdade de expressão. Porém, aos poucos, analisando as charges, entendemos que as provocações tinham sim, muito peso de escracho e pouca ideologia.
Chargistas não precisam ser idealistas. Nem precisam ser mortos, ou xingados, ou condenados.
Porém, o chargista, como um satírico, deve permanecer satírico: quando ele resolve ousar ultrapassando os limites do bom senso universal, ele pode concorrer a errar. E ficar sem graça.
Chico Caruso, em pleno Dia das Mulheres, errou em desenhar a presidente em uma situação de violência.
Não tem graça ser degolado, as famílias das pessoas assassinadas não acharam graça daquilo.
As mulheres já sofrem com uma violência aguda, dia a dia, sem trégua, e no dia dedicado à elas para discussões a respeito, justamente desta violência, veem a presidente, mulher, representada em uma ilustração pronta para ser degolada.
Não foi satírico, foi estranho e inadequado.
Mas, liberdade de expressão é liberdade de expressão: Caruso tem direito de desenhar, e repetir se assim o quiser. Porém, o mal gosto da charge atingiu o limite de um amador na arte de satirizar.
Chico Caruso foi sem graça.
Não fez rir.
Não polemizou, chocou.
Aquele mesmo choque que se sente ao assistir um vídeo de vítimas degoladas pelo Estado Islâmico.
Uma pena.
Por Gercyley Batista, vice-presidente do PRP em Goiás
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