Civilidade e educação cabem em qualquer lugar. E com qualquer pessoa. Ainda mais em Goiás, estado que adquiriu fama nacional pelo tratamento vip dispensado aos visitantes. A convidada especial de amanhã, a partir das 15 horas, atende pelo nome de Dilma Rousseff, presidente da República legitimamente reeleita e acima de tudo cidadã brasileira. O inferno astral vivido por ela no campo político-administrativo, com rejeição superior a 60%, não pode servir como desculpa para xingamentos ou manifestações que atinjam sua honra como mulher, avó e maior representante do país.
Fico aqui imaginando qual o prazer de boa parte dos brasileiros em chamar Dilma de “vagabunda, vaca, safada, malandra” e outros adjetivos que transformam o debate sobre seu governo em bate-boca de torcidas em estádio de futebol. E aqui não se trata de defesa do modo Dilma de governar. Muito pelo contrário. Sou daqueles que critica, com veemência, seu estilo centralizador, arrogante e algumas vezes dissimulado de tratar problemas simples e complexos. Desde seu relacionamento com ministros e auxiliares próximos – alguns chegaram a pedir licença médica por estresse – até a forma como se comporta com a classe política e a sociedade em geral.
Dilma Rousseff já está pagando um alto preço por sua arrogância administrativa e inabilidade política. Por isso, timidamente, passou a adotar discursos e atitudes que a recoloquem no eixo do poder novamente. Não é tarefa fácil, diga-se de passagem. Tem apelado com frequência ao ex-presidente Lula, de quem havia se distanciado, e também a outros representantes políticos que tratava com desdém, como o vice presidente Michel Temer (PMDB). Dilma está tentando, isso ninguém pode negar. Antes tarde do que nunca.
As manifestações e os panelaços sinalizam que grande parte da população, não somente a elite como afirma o Partido dos Trabalhadores, demonstra impaciência e incredulidade com o governo Dilma Rousseff. Mas isso não pode ser motivo para ofensas pessoais e pedido de impeachment sem embasamento. Xingar e ridicularizar a presidente hoje é como “empurrar bêbado ladeira abaixo”. Mais vale uma manifestação criativa, organizada, inteligente e bem humorada, características naturais do povo brasileiro.
O que se espera amanhã dos goianos, a exemplo do que ocorreu no trajeto entre a Praça Tamandaré e a sede da Polícia Federal no último domingo, são demonstrações pacíficas de inconformismo com a corrupção instalada no país, cobranças pelo fim da impunidade e por uma reforma política profunda e consistente.
Dilma vem, Dilma vai. Tratá-la como a “Geni” da política brasileira, como se fosse a única responsável por todos os males da vida pública desde a queda do ex-presidente Fernando Collor de Melo, em nada irá contribuir para o aperfeiçoamento do processo democrático tupiniquim. Ainda há um longo caminho pela frente.
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