Um berçário situado na Cidade Livre, em Aparecida de Goiânia, é alvo de investigação após denúncia de maus-tratos a crianças no local.
Fotos e vídeos feitas no ambiente mostram cômodos repletos de lixos espalhados pelo chão e acumulado sobre pias e móveis.
Em meio ao lixo, é possível identificar até mesmo latas e garrafas de bebidas alcoólicas.
Já nas louças sujas acumuladas no fogão, há restos de alimentos apodrecendo e larvas em várias panelas.
Agressões
As imagens, supostamente feitas no berçário, mostram também outros tipos de descaso com as crianças recebidas no local.
Em um dos vídeos, é possível ver uma criança sendo agredida por uma funcionária do local, após chorar.
Algum tempo após a criança começar a chorar, a mulher se aproxima do carrinho e dá um puxão que faz o garoto cair para trás, interrompendo o choro momentaneamente.
Além disso, há crianças amontoadas sobre colchões velhos e até sem espuma.
Denúncia
Em contato com a reportagem da Folha Z, a mãe de uma das crianças que utilizavam o berçário relatou parte dos problemas.
Ela, no entanto, preferiu não se identificar para garantir a proteção da família.
Segundo a mãe, que deixa o filho de 4 anos na creche desde que ele tem 6 meses de idade, conta que a situação nem sempre foi assim, mas mudou depois que a administração foi trocada.
“Uma moça que começou a trabalhar lá recentemente percebeu a situação e não aguentou ver o que estava acontecendo. Ficou lá só duas semanas e denunciou para o Conselho Tutelar, que veio até o berçário”, conta.
A mãe explica que, até então, ninguém suspeitava de nada.
A surpresa foi tanta que, ao receber uma ligação do Conselho Tutelar sobre a situação, ela diz que demorou a entender.
“Fiquei sem acreditar por algum momento”, revela.
Relatos de criança
À reportagem da Folha Z, a mãe conta que já havia ouvido do filho que chegou a tomar um tapa na cabeça no local, mas a situação foi diminuída quando procurou o berçário.
“Sempre que questionada, ela sempre tinha argumentos pra contrariar as versões da criança, como se elas estivesse exagerando ou mentindo”, explicou.
Após receber a ligação do Conselho Tutelar, ela diz que chegou a perguntar ao filho o que ele comia no dia-a-dia no berçário e a resposta foi apenas “arroz”.
“Quando perguntei o que mais tinha, de mistura para complementar, ele disse que não comia nada, somente arroz”, explicou.
Situação deplorável
https://twitter.com/FolhaZ/status/1695179213555294209
Além dela, outras mães foram convocadas por agentes do Conselho para comparecer ao local e discutir a situação, considerada “desumana” pela própria equipe, segundo relatou a mãe.
Ela afirmou que, a princípio, as principais denúncias eram referentes à falta de higiene do local, até que começaram a surgir vídeos que mostravam momentos de violência com as crianças.
“Tem denúncias até de bebês que ficam amarrados o dia inteiro. E para repreender, há muita violência, com chutes nos carrinhos, cutucadas com vassouras”, relata.
Segundo a mãe, a responsável pelo berçário declarou ao Conselho Tutelar que a situação era de falta de higiene porque ela estava viajando nos últimos dias.
No entanto, a visita dos agentes aconteceram na 4ª feira, 23, dois dias após o retorno da referida viagem.
Trauma e medo
Com a situação, a mãe conta que está com medo e desconfiada, sem saber onde deixará o filho a partir de agora.
De imediato, ele foi levado para a casa da avó, mas a situação não é definitiva.
“Creio que todo mundo que deixa o filho lá tem dificuldades de deixar em outro lugar, mas agora a desconfiança bate muito. A gente fica com muito medo do que pode acontecer”, desabafou.
Com as denúncias, algumas mães de filhos que estavam no berçário já procuraram a polícia para tomar medidas quanto ao caso.
A mãe ouvida pela Folha Z diz que já procurou uma delegacia e foi orientada a procurar a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, para prosseguir com as denúncias.
Polícia
Agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil estiveram no local na tarde desta 6ª feira (25), mas não conseguiram acesso ao interior do berçário.
A delegada Thaynara Andrade, da DPCA, responsável pelo caso, explicou que o berçário estava fechado e vazio, então nada pôde ser constatado.
Sem crianças, não é possível fazer o flagrante, e ainda não há mandado de Justiça para investigação nas dependências.
Apesar disso, Thaynara orientou as mães presentes a fazerem boletim de ocorrência na DPCA, que irá apurar as denúncias e imagens coletadas, além de convocar o Conselho Tutelar, que já esteve no local.
Quando os policiais militares se preparavam para deixar o berçário, a proprietária do estabelecimento chegou.
A delegada Thaynara já tinha ido embora.
Os militares realizaram os procedimentos legais e, em seguida, foram para outra ocorrência.
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