Os muros de Goiânia estão tomados pelas pichações. Pichar é um ato de vandalismo realizado por inúmeras galeras que disputam os espaços na busca pela fama – que só é compreendida entre elas – e pela sensação de perigo. A cidade fica feia, desfigurada, ferida. “Os pichadores ferem o bem estar humano, a estética da cidade, o direito do outro”, declara o delegado do meio ambiente, Luziano de Carvalho.
Segundo Luziano, pichação é crime ambiental e a pena para quem picha vai de 3 meses a 1 ano de prestação de serviços comunitários e pagamento de multa que pode variar de R$ 1 mil a R$ 50 mil. De acordo com levantamento da Delegacia de Meio Ambiente (Dema), existem hoje em Goiânia 20 mil pichadores. “Pichação é crime contra o patrimônio público e a nossa intenção é fazer com que os integrantes dessas galeras paguem pelos seus atos, inclusive limpando os locais onde picharam”, destaca o delegado.
Ainda de acordo com levantamento da Dema, 90% dos pichadores são menores de idade, divididos em todas as classes sociais, inclusive a classe alta. “Pichação não tem nada a ver com arte e hoje não é feita com o mesmo propósito de protesto que era feita antigamente. As galeras querem demarcar território, disputar os espaços entre elas, algo de difícil entendimento para a sociedade”, explica Luziano.
Por causa desta disputa, as galeras partem para a briga, e além do vandalismo causam desordem. “A Polícia Civil tem certeza de que todo esse esquema existe por falta de educação, que deveria começar dentro de casa”, frisa.
As pichações segundo Luziano são assinaturas, siglas dos nomes das galeras. É possível observar pela cidade que muitas delas estão riscadas. “Uma galera picha e a outra concorrente vai lá e risca, com o intuito de anular. Isso tudo ofende muito o direito de terceiros, dos donos dos muros”, declara.
Não há denúncias
Um grande problema apontado pelo delegado na questão da pichação é o fato das pessoas lesadas não denunciarem o crime. “Esse ano até agora tivemos apenas três denúncias. Acho que as pessoas não denunciam porque não sabem que se trata de um crime ou porque não acreditam que a polícia vá identificar esses pichadores, o que está errado. A Dema já identificou 19 galeras e vai continuar”, afirmou.
Luziano incentiva as pessoas que tiverem seus muros pichados a denunciarem pelo número 197. “Os pichadores se unem para pichar então a sociedade precisa se unir para combater essa prática”, destaca. Para o delegado essa união deve ser feita não só pela polícia e pelas vítimas, mas por diversas classes e órgãos da sociedade como sindicatos, Ministério Público, pais e responsáveis pelos jovens, Fieg e outros.
Mal
A arquiteta Lêda Marise Teixeira, de 54 anos, mora em uma casa no Jardim América que já foi pichada várias vezes, assim como as casas vizinhas à sua. “Tenho horror à pichação. É uma prática que demonstra a falta de educação dos jovens de hoje. E essa educação deveria começar em casa, o que em muitos casos não acontece”, falou. Lêda diz que não sabia que poderia denunciar à polícia a pichação no seu muro. “Agora vou procurar denunciar. Acho que a punição aos pichadores tem de ser forte, eles precisam sentir na pele. Devem começar pagando pela limpeza, deixando o lugar que eles sujaram novo”, completa.
O estabelecimento da empresária Mônica Abud, de 46 anos, foi alvo de galeras de pichadores logo que foi aberto. “Um dia eu cheguei para trabalhar e minha porta estava pichada. Um dia depois havia um x em cima do nome e uma nova pichação do lado”, conta.
“A sensação é muito ruim. Sinto que estou sendo vigiada, que estou marcada. É realmente um grande absurdo isso. Minha loja novinha agora está feia e sei que se eu pintar não vai adiantar porque eles voltam e picham de novo”, desabafa.
Mônica também não sabia que poderia denunciar. “Vou tentar essa possibilidade, mas me sinto muito mal e desanimada com esta situação”, falou.
Camila Bluemenschein
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