Sorria, você está sendo roubado!
Não fui ao Festival Villa Mix no último domingo. Mas presenciei diálogos e cenas nos bastidores que merecem registro. Nas proximidades do Shopping Flamboyant, observei uma jovem quase implorar à amiga para que deixasse o celular com o motorista que as transportava.
Ela alegou que o seu aparelho, mais modesto, já era suficiente para as selfies e comunicação com amigos e parentes. “Você ainda não quitou as prestações e o seu modelo é muito visado”, argumentou a jovem. As ponderações entraram por um ouvido e saíram por outro. “Não me imagino sem o celular”, respondeu a amiga dando gargalhadas.
E lá se foram as duas cantando em direção ao estacionamento do estádio Serra Dourada. Gravei aquela imagem na memória. Nem imaginava que voltaria a vê-las cerca de 30 horas depois nos telejornais, reconhecendo celulares roubados no 8º DP.
Alegria e pesadelo
A vítima pelo menos reconheceu a imprudência em entrevista. “Foi tudo muito rápido. Teve um empurra-empurra logo que escureceu. Fiquei sem o celular e com algumas escoriações. Fui a grande culpada por ter ignorado a recomendação da minha amiga”, desabafou, acrescentando que o momento de alegria havia se transformado em pesadelo.
Caso corriqueiro em se tratando de violência. Apenas um breve exemplo do misto de ingenuidade e ignorância que toma conta de parcela significativa da sociedade em eventos musicais e esportivos de grande porte. As pessoas conhecem os riscos, são bombardeadas pelo noticiário diariamente, entretanto preferem fazer vista grossa para questões básicas de segurança.
Os 111 celulares recuperados pela PM com quadrilha em hotel próximo à rodoviária são apenas parte da imprudência e da desatenção. O que dizer de relógios, anéis e correntes de ouro, quantidade excessiva de dinheiro em meias e partes íntimas, carros estacionados em ruas escuras próximas à Vila Lobó, mais de 100 multas a motoristas por embriaguez na BR-153, e casais transando nos arredores do Ministério Público, PUC-GO e Parque Flamboyant. Um festival de inconsequências, campo fértil para a bandidagem e trabalho redobrado para a polícia.
Fácil ao extremo
E não parou por aí. Um motorista teve a capacidade de dizer que preferia deixar o carro importado na rua, avaliado em R$ 120 mil, do que pagar de 20 a 40 reais nos estacionamentos disponíveis. Resultado: estepe roubado e dois riscos na lataria do veículo. Em eventos como o Villa Mix, os meliantes não disfarçam a satisfação pelas facilidades proporcionadas pelo público.
A combinação de desleixo com improviso tem tudo para deixar os marginais ainda mais abusados. Não está longe o momento em que os bandidos irão além da ação criminosa. A tendência é que façam selfies com suas vítimas vestindo camisetas com os seguintes dizeres: Sorria, você está sendo roubado! Alguém aí duvida que a sociedade está bem próxima de assistir tamanha aberração?
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