Completando o quarto episódio exibido na última segunda-feira (27/10), “Strange Empire” conseguiu na sua simplicidade ser uma das melhores estreias deste mês de outubro. Outra atração do canal canadense CBC iniciada em 2014 já apareceu entre as análises dessa coluna, mas não agradou muito. Diferente de “The Honourable Woman”, a estreante da “Fall Season” tem a seu favor um tema pertinente e um roteiro criativo.
“Strange Empire” tem como cenário a América do Norte do final do século XIX. O enredo simples e os dramas familiares e interpessoais enganam à primeira vista, fazendo o seriado parecer um novelão de época sem profundidade. No entanto, a crueza das críticas sociais e o acerto na construção dos personagens são encantadores. Mas vamos ao que interessa: as mulheres.
Faroeste feminino
A premissa do seriado – de que teríamos um faroeste diferente, em que as mulheres seriam as figuras centrais e dominantes – sozinha já teve o poder de fisgar a atenção. Mas, assistindo aos primeiros minutos da série era possível descobrir que não seria só isso. Além da questão de gênero, existe também a exposição das crueldades a que eram entregues nativos, negros e outros imigrantes.
Através de frequentes embates entre as figuras centrais da trama, “Strange Empire” é capaz de debater a lenta evolução das liberdades femininas dentro de um mundo tão machista. A estranheza que causava, naquele contexto, a existência de uma mulher forte, líder familiar e independente pode ser muito bem extrapolada para a contemporaneidade. Sem falar da segregação por cor e classe social.
Personagens fortes
Entre os destaques da série, está Kat Loving. Vivida por Cara Gee, a meia índia manuseia muito bem rifle e montaria e não deixa homem nenhum ditar as regras. A questão da maternidade também é representada com muita sensibilidade na personagem. Nela há boa atuação aliada a heroísmo convincente.
Outra personagem forte é Rebecca Blithely, esposa de um conceituado médico. Ela precisa publicar artigos científicos sob o nome do marido e também precisa da autorização dele para praticar qualquer procedimento médico, apesar de ser claramente mais capaz do que ele. A personagem é autista, característica muito bem representada pela atriz Melissa Farman. (Não é por nada que Melissa fez parte de “Lost”, interpretando Rousseau na juventude.)
Nesses tempos em que ainda se fala de achar o “lugar da mulher” na vida, a postura correta e, pior ainda, o recato feminino, mande à merda esses de visão estreita e aproveite, às segundas-feiras, “Strange Empire”.
PS. Não se surpreenda ao reconhecer alguns bons rostos de outras produções canadenses, como “Continuum” e “Orphan Black”.
Marco Faleiro é estudante de jornalismo e já tem mais de duas mil horas de seriados assistidos – [email protected]
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