É comum acreditar que grandes tragédias ou atos horríveis cometidos pela humanidade ficaram num passado muito distante.
No entanto, há pessoas vivas ainda hoje que passaram por atrocidades que parecem vindas de outra realidade, como é o caso dos zoológicos humanos.
Imagem de destaque retirada do arquivo da Biblioteca do Congresso (em inglês: Library of Congress), dos EUA.
Como funciona o zoológico humano?
Os zoológicos humanos eram como os zoológicos de animais, focados em exibir pessoas consideradas exóticas, a partir do século XVII, na Europa.
Tratam-se de exibições de pessoas, em sua maioria negros africanos e nativos indígenas, aprisionados em jaulas e expostos como animais.
Nesses zoológicos, esses indivíduos eram obrigados a realizar tradições de suas culturas, desfilar nus e carregar animais para o entretenimento do público.
Há relatos de exibições em que as pessoas viviam juntas de macacos, como foi o caso de uma pigmeia do Congo, em 1906, que estava aprisionada em Nova Iorque e era obrigada a carregar chimpanzés.
Milhões visitavam essas exibições, que eram criadas como grandes feiras internacionais.
Quem criou o zoológico humano?
Há relatos de zoológicos humanos desde meados do século XV, mas eles tiveram uma popularização enorme entre o fim do século XIX e o início do século XX.
Um dos primeiros empresários a investir pesadamente no ramo de exibição das chamadas “populações exóticas” como forma de negócios foi Carl Hagenbeck.
Em 1874, com base na sua experiência com negociações de animais, ele decidiu exibir povos da cultura Sámi – nativos da região da Escandinávia.
A diferença das exibições de Hagenbeck é que agora os humanos eram apresentados em jaulas, gaiolas e ambientes que continham plantas e animais, para dar a impressão de que eles estavam em seus habitats naturais.
Esse horror se tornou o entretenimento principal de muitas sociedades ocidentais.
Diversas comunidades de negros africanos e indígenas eram enviados e exibidos para grandes centros urbanos, como Paris, Nova Iorque, Londres e Berlim.
Em 1931, as Exposições Coloniais da cidade francesa foram visitadas por mais de 34 milhões de pessoas em 6 meses.
Racismo e eurocentrismo
Para justificarem suas ações no período colonial, os europeus criaram diversas crenças e teorias que colocavam a Europa como centro do mundo.
Foi criado um imaginário do Outro, que tinha costumes, religiões e tradições diferentes, consideradas retrógradas em comparação ao mundo ocidental.
Logo os europeus impuseram uma hierarquização de raças que tinha como base o darwinismo científico. Para eles, os europeus eram indivíduos mais evoluídos que outros povos.
Diante disso, os zoológicos modernos impulsionaram todas essas visões horríveis da humanidade, exercendo um importante papel no desenvolvimento do racismo moderno.
Diversos cientistas do período faziam exibições de povos africanos e indígenas ao lado de macacos, por exemplo, para tentar induzir comparações dos presos com os animais.
Essas terríveis exibições no Ocidente ajudaram a motivar a dominação sobre esses povos.
Como acabaram os zoológicos humanos?
O último registro de um zoológico humano foi na Bélgica, em 1958, há 65 anos atrás.
Na época, o Congo ainda era colônia do país europeu.
Foi montada uma aldeia “típica”, em que os espectadores observavam os congoleses mantidos ali.
“Se não reagiam, jogavam moedas ou bananas para eles pela cerca de bambu”, relatou um jornalista da época.
Mesmo quando foram proibidos, os zoológicos humanos foram marcados pela crueldade.
Não há datas precisas, mas a ilegalidade das exibições surgiram durante a ascensão do fascismo europeu.
Muitos líderes temiam que o público simpatizaria com os negros, o que poderia acabar causando uma miscigenação indesejada entre os povos.
Eles também desejavam que os presos sequer fossem vistos ou reconhecidos pelos europeus.
Em outros casos, os zoológicos humanos deixaram de existir por conta da perda de interesse natural da população, que passou a buscar por outras formas de entretenimento.
Gente em exibição: Zoológicos humanos
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